Um dos novos géneros de microalgas de água doce identificados foi baptizado em honra do rio Mondego, de onde provêm a maioria dessas algas.
Uma equipa internacional de cientistas descobriu uma nova família de microalgas de água doce, num estudo que durou três anos e cujos resultados foram agora anunciados em comunicado pela Universidade de Coimbra (UC).
O estudo, liderado por investigadores da UC, foi publicado em Fevereiro na revista científica Journal of Phycology. Neste trabalho colaboraram também cientistas da Universidade de Carlos, em Praga, Universidade de Ostrava e Instituto de Biologia do Solo da Academia Checa das Ciências, na República Checa, e da Universidade de Ozarks, nos Estados Unidos da América.
A nova linhagem de organismos foi chamada de Neomonodaceae e pertence à classe Eustigmatophyceae. Em causa estão organismos «cujo interesse biotecnológico é reconhecido devido a algumas espécies serem ricas em antioxidantes, carotenóides e lípidos de valor nutricional e com interesse para biodiesel”, explicou a autora principal do novo artigo científico, Raquel Amaral, citada no mesmo comunicado.
“À semelhança de outras famílias da mesma classe, os géneros de microalgas agora descobertos têm potencial para dar origem a compostos de interesse farmacêutico, cosmético ou para aquacultura, por exemplo.”
Estas e outras microalgas, segundo a investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), são “vistas como promissoras” na produção de compostos com valor biotecnológico “porque são fáceis de cultivar e não requerem uso de terreno arável”. Ainda assim, mantêm “custos elevados de produção.”
Uma das maiores colecções de microalgas do mundo
Fundamental para esta descoberta foi “o estudo de estirpes de microalgas mantidas em cultura na Algoteca de Coimbra (ACOI)”, sublinhou a mesma responsável. Ali está guardada aquela que é considerada uma das maiores colecções de microalgas do mundo.
“Sete estirpes da ACOI contribuem para esta nova linhagem genética de microalgas e constituem dois dos novos géneros. A um deles atribuímos o nome científico Munda, designação romana do rio Mondego, em homenagem ao rio de onde provém a maioria destas algas», esclareceu a cientista portuguesa.
O estudo agora divulgado fez parte da tese de doutoramento de Raquel Amaral e consistiu na «observação morfológica e genética para a determinação filogenética de 10 novas estirpes, o que resultou na descoberta de 3 novos géneros desta classe”.
As espécies que fazem parte da nova família são organismos unicelulares e têm uma forma alongada. A maioria apresenta um “pé” por onde se fixa ao substracto.
Além das diferenças genéticas que justificam a sua segregação das outras famílias de Eustigmatophyceae, as microalgas descritas pela equipa “distinguem-se pela ausência de uma estrutura celular intitulada pirenóide», descreveu a investigadora, sublinhando que no estudo das microalgas os métodos de base genética “são cruciais”. Isto porque se trata de “organismos microscópicos e muitas vezes espécies diferentes podem ser muito parecidas».
A Algoteca de Coimbra, instalada no Departamento de Ciências da Vida da FCTUC, é coordenada por outra investigadora e autora do mesmo estudo, Lília Santos.