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abelha pousada numa flor
Foto: Wilder/Arquivo

Capacidade de algumas plantas para gerar calor foi crucial na evolução de insectos polinizadores

09.09.2024

Estudo liderado pelo Instituto Botânico de Barcelona (IBB) sugere que o calor gerado pelos tecidos de algumas plantas beneficiou a atracção de insectos polinizadores durante, pelo menos, 200 milhões de anos.

Apesar de não ser possível conservar nos registos fósseis a capacidade de algumas plantas gerarem calor internamente, os investigadores conseguiram inferir a presença deste processo em plantas antigas ao estudar estruturas anatómicas actuais semelhantes.

Um novo estudo liderado pelo IBB – centro misto do Conselho espanhol Superior de Investigações Científicas (CSIC) e do Consorci Museu Ciències Naturals de Barcelona – estudou as características das plantas actuais que têm a capacidade de produzir o seu próprio calor a partir de processos metabólicos internos e compararam-nas com as linhagens das plantas fósseis.

O trabalho, publicado a 6 de Setembro na revista Nature Plants, foi feito em colaboração com a Universidad Complutense de Madrid, com o Instituto Geológico e Mineiro de Espanha (IGME–CSIC), o Smithsonian Institution, a Universidade de Barcelona e os Jardines Botânicos de Sidney.

A capacidade de um organismo gerar calor é bem conhecida nos animais. Mas algumas plantas também desenvolveram esta capacidade. Este processo metabólico permite que certas partes da planta – como as flores e as inflorescências – elevem a sua temperatura acima da temperatura do ambiente. O calor que geram ajuda a volatilizar e a dispersar as fragrâncias florais e outros compostos químicos que atraem insectos como escaravelhos e moscas até às plantas, facilitando a sua polinização.

“As nossas descobertas sugerem que este processo em plantas é mais antigo do que aquilo que se pensava”, comentou, em comunicado, David Peris, investigador do IBB e primeiro autor do estudo. “Há 200 milhões de anos, a diversificação das plantas angiospérmicas – as plantas com flores – ainda não tinha ocorrido. Por isso, este fenómeno poderia ter sido um factor crucial no êxito evolutivo das plantas com sementes em geral e das plantas com flores em particular e também no êxito dos seus polinizadores”, acrescentou.

Este estudo permitiu aos investigadores identificar quais são as linhagens das plantas fósseis que poderiam ter tido actividade de geração de calor, sugerindo que este fenómeno tenha estado presente nas plantas com sementes durante mais tempo do que se pensava.

Segundo os autores do estudo, a capacidade de gerar calor pode ter dado a certas plantas do Mesozóico, há mais de 200 milhões de anos, uma vantagem competitiva face às plantas restantes ao atrair os insectos polinizadores de forma mais eficiente, contribuindo assim para o seu êxito reprodutivo.

Esta estratégia de atracção de polinizadores poderia ter precedido outras, como as cores chamativas das flores, e ter sido influenciada pelas alterações climáticas do passado.

Os investigadores acreditam que este estudo abre novas portas para a exploração sobre como estas interacções influenciaram a diversificação das plantas e dos seus polinizadores ao longo da história evolutiva.

A geração de calor nas plantas “não é apenas uma curiosidade botânica”, salientou Iván Pérez-Lorenzo, investigador do IBB que também participou no estudo. “Trata-se antes de um factor importante que contribuiu para o êxito dos dois grupos de organismos mais diversos da actualidade: os insectos e as angiospérmicas, e tem implicações cruciais para entender a evolução das estratégias de polinização.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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