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Macho de tartaranhão-caçador (Circus pygargus). Foto: Cks3976/Wiki Comuns

Aves estepárias estão a desaparecer das planícies de Madrid

22.05.2018

Cientistas espanhóis debruçaram-se sobre a situação das quatro principais espécies de aves das planícies de cereais da região de Madrid. Confirmaram que as abetardas (Otis tarda), os sisões (Tetrax tetrax), os cortiçóis-de-barriga-preta (Pterocles orientalis) e os tartaranhões-caçadores (Circus pygargus) estão em forte declínio.

 

Estudos realizados por investigadores do Museu Nacional de Ciências Naturais, do Conselho Superior de Investigações Científicas em Espanha (CSIC), revelaram que as populações destas quatro espécies, que fazem parte das chamadas aves estepárias, diminuíram em média quase 50 por cento em 10 anos, de 2006 a 2016.

A situação destas espécies é semelhante a outras regiões da Península Ibérica e da Europa, convertendo as aves estepárias “no grupo de aves mais ameaçadas da Europa”, afirmou ao El Pais um dos investigadores, Carlos Palacín, que juntamente com Juan Carlos Alonso foi autor de um estudo publicado em Abril no Journal for Nature Conservation.

 

dois cortiçóis de barriga preta numa planície
Cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis). Foto: Dûrzan Cîrano/Wiki Commons

 

Tanto a abetarda como as outras espécies estão fortemente associadas a campos de cereais de sequeiro, onde encontram alimento e constroem os seus ninhos, mas esse habitat está a ser destruído pelas novas técnicas de agricultura intensiva e pelo crescimento das urbanizações – esse último problema, aliás, é apontado como preocupante na região de Madrid.

 

Macho de sisão (Tetrax tetrax). Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

 

Estas aves estão também a ser afectadas em zonas de protecção especial, criadas pela legislação europeia para proteger espécies prioritárias, o que leva os investigadores a questionar a eficácia da estratégia europeia em áreas agrícolas protegidas.

“Os dados mostram que as ferramentas actuais de protecção não são suficientes para salvaguardar as populações”, avisa Carlos Palacín.

Também em Portugal, um estudo recente indicou que as ZPE das planícies do Alentejo não estão a cumprir o seu papel de proteger espécies prioritárias como o sisão.

No caso de Espanha, aliás, esta espécie passou a nidificar fora das ZPE na região de Madrid, optando por áreas agrícolas que não estão protegidas pelas regras europeias. Isso porque é onde ainda se mantêm as técnicas tradicionais de cultivo de sequeiro, às quais as aves estepárias estão associadas.

 

“Os grandes esquecidos da conservação”

Feitas as contas, segundo os investigadores, o número de abetardas na região de Madrid caiu um terço no espaço de 10 anos, passando de 1.500 aves para um cerca de um milhar na última contagem, em 2016. Já as populações de sisão baixaram 45 por cento no número de machos, de 2.600 para 1.200. Pior estiveram o cortiçol-de-barriga-preta, com uma queda de 48% no número de indivíduos (de 145 para 75) e o tartaranhão-caçador, que “está prestes a desaparecer dos campos madrilenos” – segundo Carlos Palacín -, com apenas 29 casais.

 

uma abetarda no campo
Abetarda. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

Em declarações ao El Pais, o cientista do CSIC sublinhou que “as aves estepárias são os grandes esquecidos da conservação, porque têm sido espécies desconhecidas que não despertaram o interesse da sociedade nem das instituições”.

Para já, uma das prioridades será a revisão das regras da política agrícola comum, que está neste momento em curso, criticada por neste momento ter como principal objectivo “apenas a produção e mais nada.”

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Descubra onde pode observar a abetarda, o sisão, o tartaranhão-caçador e o cortiçol-de-barriga-preta, no portal Aves de Portugal.

 

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Também nos campos franceses, há uma “catástrofe iminente” com o desaparecimento de aves.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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