Uma cagarra anilhada ainda enquanto cria na ilha Selvagem Grande, há cerca de ano e meio, foi encontrada em Abril numa praia do estado brasileiro de Santa Catarina, tendo percorrido mais de 7.000 quilómetros através do oceano Atlântico.
Esta foi, nas palavras da equipa do Projecto de Monitoramento de Praias (PMP) – Bacia de Santos, uma “ocorrência inédita”, registada em Abril passado, que “surpreendeu a equipa do PMP-BS/Univille, aqui no litoral norte de Santa Catarina”.
A cagarra, ou pardela-do-bico-amarelo (Calonectris diomedea borealis), foi encontrada, sem vida, na praia de Ubatuba em São Francisco do Sul.
Aquela ave ave oceânica migratória tinha uma anilha (LV27495) e foi através dela que a equipa brasileira percebeu que estava perante uma ave vinda de Portugal e que tinha sido anilhada a 29 de Setembro de 2022 naquela ilha do arquipélago da Madeira. “Esse foi o primeiro registro desta espécie de ave com anilha do país português”, escrevem os responsáveis brasileiros.
Com base nos dados transmitidos pelos profissionais do órgão português responsável pelo anilhamento (CEMPA de Lisboa/Portugal), “concluímos que a ave percorreu 7.158 quilómetros até encalhar em território catarinense e que tinha aproximadamente 1 ano e meio (564 dias desde o anilhamento até a data que foi registrada pela equipe do PMP-BS/Univille)”.
Apesar do avançado estado de decomposição, foi realizada a necropsia para poder avaliar com detalhe a carcaça desta espécie de hábitos oceânicos. “Durante a avaliação macroscópica foi constatado que se tratava de uma fêmea magra e que apresentava parasitas nematódeos no esófago. Contudo, devido a autólise da maioria dos órgãos internos, não foi possível determinar a causa da morte.”
A migração faz parte do ciclo de vida de diversas aves, entre elas a pardela-de-bico-amarelo. A Calonectris diomedea borealis é, provavelmente, a espécie de ave marinha mais abundante que nidifica em ilhas portuguesas.
Segundo o Atlas das Aves Marinhas, após a época de reprodução, estas aves viajam para os seus locais de invernada situados sobretudo no Atlântico Sul, ainda que alguns indivíduos permanecem no Atlântico Norte e outros cheguem ao Oceano Índico. “Há mais de um século que a área de distribuição em Portugal permanece estável.”