As alterações climáticas são agora a maior ameaça ao património natural mundial, alerta um relatório publicado hoje pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Um terço (33%) dos sítios Património Mundial estão ameaçados pelas alterações climáticas, incluindo o maior recife de coral do planeta, a Grande Barreira de Coral, avaliada como estando em situação “crítica”, pela primeira vez.
“Os sítios Património Natural Mundial estão entre os locais mais preciosos do mundo e devemos às gerações futuras protegê-los”, comentou, em comunicado, Bruno Oberle, director-geral da UICN.
Este responsável alertou para o que está a acontecer a esses locais, desde o recuo dos glaciares ao branqueamento dos corais e a incêndios e secas cada vez mais frequentes e intensos.
“Enquanto a comunidade internacional define novos objectivos para conservar a biodiversidade, este relatório assinala a urgência com a qual devemos responder aos desafios ambientais, a uma escala planetária”, acrescentou.
O relatório “IUCN World Heritage Outlook 3” vem no seguimento de relatórios anteriores publicados de 2014 a 2017, para avaliar se a conservação dos 252 sítios Património natural mundial é suficiente para os proteger a longo prazo.
Este relatório concluiu que as alterações climáticas destronaram as espécies exóticas invasoras como a maior ameaça ao património natural da Humanidade.
Entre os 83 sítios Património Mundial ameaçados pelas alterações climáticas está a Grande Barreira de Coral, em declínio por causa do aquecimento e acidificação dos oceanos. Como consequência, as populações de espécies marinhas estão a diminuir.
Na África do Sul, na região protegida de Cape Floral, as alterações climáticas exacerbaram a dispersão de espécies invasoras, enquanto que a área protegida do Pantanal, no Brasil, tem sido gravemente atingida por incêndios, especialmente os de 2019-2020.
Em Kluane Lake, sítio Património Mundial entre o Canadá e os Estados Unidos, o rápido degelo do Glaciar Kaskawulsh Glacier alterou o curso dos rios, dizimando populações de peixes de várias espécies.
Segundo este relatório, 63% dos sítios são avaliados como “bons” ou “bons com algumas preocupações”, enquanto 30% são de “preocupação significativa” e 7% são avaliados como em situação “crítica”.
Metade dos sítios avaliados têm protecção e gestão “efectiva” ou “altamente efectiva”. A sustentabilidade do financiamento dos sítios é a questão mais comum avaliada como de “grande preocupação”.
Este Outlook concluiu que 16 sítios se deterioraram desde 2017 e que apenas oito melhoraram.
O relatório também identificou sinais dos efeitos da turbulência causada pela pandemia do COVID-19. “Enquanto que números mais reduzidos de turistas podem ter aliviado a pressão em alguns ecossistemas, em mais casos, os impactos parecem ser negativos”, segundo a publicação.
Isto porque encerrar sítios ao turismo causou perda de receitas e as actividades ilegais estão a ganhar terreno, com menos funcionários para as travar.
Para Peter Shadie, director do Programa da UICN para o Património Mundial, há uma “necessidade extrema de recursos adequados para gerir as nossas áreas naturais insubstituíveis”.
“Muitos sítios Património natural Mundial mostram que a conservação pode e trabalha para um bem maior e que os seus sucessos servem como modelos que podem ser replicados em qualquer lugar.”
Um desses exemplos, acrescentou, é o Parque Nacional Comoé, na Costa do Marfim. Este parque continua a melhorar e foi agora avaliado como “bom com algumas preocupações” depois de ter sido avaliado como numa situação “crítica” em 2014. Isto graças à estabilidade política, gestão efectiva e apoio internacional. Como resultado, populações de chimpanzés, elefantes e búfalos estão estáveis e espécies raras de aves estão a começar a regressar.