A leitora Helena Barahona Simões fotografou esta cobra a 14 de Setembro no Brejão, Alentejo, e quis saber qual a espécie a que pertence. Guilherme Caeiro-Dias responde.
“Vivo numa casa de campo tipo ‘monte’ no Alentejo próximo do Brejão, numa casa antiga em taipa recuperada localizada num terreno com bastante vegetação e água. Apareceu esta cobra dentro da minha casa próximo da porta envidraçada que estava aberta para o jardim. Um dos gatos que tenho deu alerta e estava atento a tentar caçá-la. A cobra enrolou-se sobre si própria e emitia um som como um sopro. Não sei que tipo de cobra é, cacei-a com uma vassoura e uma pá e atirei-a para um terreno vizinho longe do meu… Houve um incêndio grave no início do mês (de Setembro) até ao limite do meu terreno e muita da vegetação de uma linha de água que o delimita ardeu, bem como o terreno com pinhal e sobreiros confinante com o meu. Há ratos de campo, sapos e rãs no meu terreno nas zonas mais húmidas… Não entendo também por que razão a cobra resolveu entrar na casa…”, escreveu a leitora à Wilder.
Trata-se de uma cobra-d’água- de-colar-mediterrânica (Natrix astreptophora).
Espécie identificada e texto por: Guilherme Caeiro-Dias, primeiro autor do estudo que elevou ao estatuto de espécie a lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), antigo aluno de doutoramento no CIBIO-InBIO, agora a trabalhar na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos.
Os olhos desta cobra são relativamente grandes e a coloração dorsal é acastanhada com “pintas” negras. Estas são características de uma cobra-de-água-de-colar-mediterrânica (Natrix astreptophora) adulta. Não produz veneno e, portanto, é totalmente inofensiva.
O comportamento que a leitora descreve quando atacada pelo gato é o comportamento normal desta espécie quando se sente ameaçada e sem possibilidade de escapar, para tentar intimidar o agressor. Contudo o principal mecanismo de defesa deste animal é fugir, assim como qualquer outra serpente.
No final a leitora diz que não entende a razão pela qual a cobra resolveu entrar em casa. Acho que é importante esclarecer aqui que a cobra não “resolveu entrar em casa”. Não é uma decisão “consciente” do animal. Para a cobra uma casa é apenas uma caracteristica do ambiente tal como é uma árvore, um afloramento rochoso, um ribeiro, etc. O acto de entrar em casa foi apenas incidental.
Queria por fim por agradecer a sensibilidade da leitora por remover a cobra de casa viva e de a libertar.
Agora é a sua vez.
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