O leitor António Soares encontrou este animal perto de Serpa, Baixo Alentejo, a 24 de Fevereiro e pediu para saber qual a espécie. Diogo Parrinha responde.
“Apareceram duas pequenas cobras hoje (21 de Junho) na casa de banho da minha casa de férias no Alentejo, em Portel. São pequenas, a GNR veio cá a casa e conseguiu apanhar uma delas. A outra fugiu para dentro desse pequeno armário por baixo da banheira e desapareceu. Percebi que esse armário tem uns pequenos buracos no betão por onde devem ter entrado. Já tapei os buracos com massa. Estas cobras são perigosas? Há alguma coisa mais que deva fazer?”, perguntou o leitor à Wilder.
Tratam-se de cobras-cegas (Blanus cinereus).
Espécie identificada por: Diogo Parrinha, herpetólogo e aluno de doutoramento do BIOPOLIS/CIBIO.
“São cobras-cegas (Blanus cinereus), também conhecidos como licranço no Alentejo, que na verdade não são cobras mas sim anfisbaenideos. São répteis ápodes de hábitos subterrâneos, completamente inofensivos”, respondeu Diogo Parrinha.
Apesar do nome, esta espécie é mais aparantada com os lagartos do que com as cobras e não produz qualquer veneno. É totalmente inofensiva.
Na horta ou em qualquer sistema natural, as cobras-cegas alimentam-se sobretudo de pequenos insectos como formigas ou larvas de outros insectos.
Esta espécie vive no solo em túneis escavados por si. Os túneis escavados por animais fossoriais evitam a compactação dos solos e são uma forma natural de aerificação do solo, o que permite a chegada de mais ar (particularmente azoto e oxigénio) às raízes das plantas. De salientar que um indivíduo sozinho não tem um impacto significativo, mas em conjunto com todas as outras espécies que escavam galerias no solo (minhocas, ralos, formigas, etc.) o impacto é mais significativo.
Este é um bom exemplo da importância de manter a diversidade das comunidades naturais e que beneficiam as actividades humanas.
Agora é a sua vez.
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