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Que espécie é esta: anelídeo poliqueta Diopatra neapolitana

10.09.2021

A leitora Mafalda Roxo fotografou este buraquinho na ilha da Armona, Ria Formosa, a 18 de Agosto de 2018 e pediu para saber a espécie. Roberto Martins responde.

“Gostava de vos pedir ajuda na identificação de uma espécie que encontrei a 18 e 19 de Agosto de 2018 na ilha da Armona, na Ria Formosa, quando a maré estava muito baixa. A fotografia não dá grande informação, mas posso acrescentar que aquilo que se vê na fotografia parecia ser a extremidade de uma parte tubular, de consistência cartalaginosa (ao toque fazia lembrar uma traqueia) de um qualquer animal. Daquela estrutura tubular era expulsada água e consegui ver algo mexer-se lá dentro. Não sei se estas informações permitem chegar a alguma conclusão. Estou até hoje intrigada com isto, por isso se me conseguirem ajudar agradeço muito! :)”, escreveu a leitora à Wilder.

Trata-se do anelídeo poliqueta Diopatra neapolitana.

Espécie identificada e texto por: Roberto Martins, biólogo marinho e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro.

A foto parece corresponder a um tubo de um anelídeo poliqueta Diopatra neapolitana, comummente denominado de “casulo”, e amplamente apanhado na Ria de Aveiro, Ria Formosa e estuário do Tejo durante o período de baixa-mar, que serve depois como isco para pesca.

Estes vermes marinhos vivem dentro dos tubos membranas que constroem ao longo da vida com partículas de areia, vasa, conchas ou algas que vão encontrando para fortalecer e adornar o mesmo. Esses tubos podem atingir largas dezenas de centímetros.

São organismos totalmente inofensivos para o ser humano. Eles alimentam-se de pequenos animais que se aproximam ou entram dentro do tubo.

A espécie em questão tem uma propriedade muito peculiar que é o facto de conseguir regenerar tecidos após ataques pelos seus predadores naturais, nomeadamente aves e peixes, mesmo que fique sem a parte anterior (leia-se a cabeça e os primeiros segmentos). No entanto, tem mais dificuldade em recuperar após a captura humana para isco de pesca, uma vez que, ao puxar o animal, o mariscador raramente consegue extrair todo o animal, e o que lá fica (a parte mais posterior) é incapaz de se auto-regenerar.

Ressalvo que a identificação só poderá ser confirmada mediante a observação do animal inteiro, uma vez que em Portugal estão reportadas três espécies do género Diopatra que coabitam nas nossas águas de transição, nomeadamente a D. micruraD. marocensis e que facilmente se confundem com juvenis de D. neapolitana.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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