O leitor André Simões viu este montinho de areia na Manta Rota em Agosto e pediu para saber a espécie. Roberto Martins responde.
Trata-se do anelídeo poliqueta Arenicola marina.
Espécie identificada e texto por: Roberto Martins, biólogo marinho e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro.
O monte de areia é realizado pelo anelídeo poliqueta Arenicola marina.
Estes organismos medem cerca de 15 a 20 cm de comprimento e fazem tubos em U, ingerindo sedimentos pela boca e expelindo-os na outra extremidade, originando montinhos de areia como o que se vê na foto. A epiderme é espessa e rugosa, apresentando vários “anéis” nos seus segmentos, cada qual apresentando sedas e ganchos (estruturas quitinosas que usam principalmente para locomoção) e tufos de brânquias (apenas no abdómen).
A espécie A. marina é amplamente (re)conhecida no norte da Europa e pontualmente nalguns locais de Portugal.
Recentemente, uma equipa de biólogos da Universidade de Aveiro recenseou não uma, mas duas espécies deste género, a Arenicola marina e A. defodiens na Ria de Aveiro, local no qual se desconhecia a ocorrência destes animais. Tratou-se do primeiro registo da espécie A. defodiens em toda a Península Ibérica. Concluiu-se que as espécies não co-existem nos mesmos habitats, sendo a densidade populacional igualmente muito distinta (até 1 indivíduo por m2 vs. até >40 por m2 no caso da A. marina em zonas de ostriculturas).
Resta destacar que a recente colonização dos habitats da Ria de Aveiro (e de outros locais em Portugal, ex. Ria Formosa) por organismos do género Arenicola poderá estar precisamente ligado à proliferação das ostriculturas no país, potenciado por alterações globais. O impacto ecológico, decorrente da competição com espécies nativas, ainda é desconhecido.
A verdade é que, por serem bioturbadores, os organismos do género Arenicola desempenham uma função ecológica muito importante ao promoverem a oxigenação dos sedimentos superficiais onde habitam, o que pode alterar os habitats intertidais. Por outro lado, a sua proliferação poderá ter um impacto socioeconómico positivo, uma vez que estes organismos são amplamente utilizadas como isco na pesca desportiva (ex. robalo, sargo, dourada ou solha), ao longo da costa Atlântica, incluindo recentemente em Portugal, onde se conhece como “bicho preto” ou “cagão”.
Agora é a sua vez.
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