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Que espécie é esta: anelídeo poliqueta Arenicola marina

30.06.2022

A leitora Gabriela Costa viu estes montinhos de areia na foz do Rio Minho a 28 de Junho e pediu para saber a espécie. Roberto Martins responde.

Trata-se do anelídeo poliqueta Arenicola marina.

Espécie identificada e texto por: Roberto Martins, biólogo marinho e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro.

Os montes de areia são realizados pelo anelídeo poliqueta Arenicola marina

Estes organismos medem cerca de 15 a 20 cm de comprimento e fazem tubos em U, ingerindo sedimentos pela boca e expelindo-os na outra extremidade, originando montinhos de areia como se vêm nas fotos. A epiderme é espessa e rugosa, apresentando vários “anéis” nos seus segmentos, cada qual apresentando sedas e ganchos (estruturas quitinosas que usam principalmente para locomoção) e tufos de brânquias (apenas no abdómen). 

A espécie A. marina é amplamente (re)conhecida no norte da Europa e pontualmente nalguns locais de Portugal. 

Recentemente, uma equipa de biólogos da Universidade de Aveiro recenseou não uma, mas duas espécies deste género, a Arenicola marina e A. defodiens na Ria de Aveiro, local no qual se desconhecia a ocorrência destes animais. Tratou-se do primeiro registo da espécie A. defodiens em toda a Península Ibérica. Concluiu-se que as espécies não co-existem nos mesmos habitats, sendo a densidade populacional igualmente muito distinta (até 1 indivíduo por m2 vs. até >40 por m2 no caso da A. marina em zonas de ostriculturas). 

Resta destacar que a recente colonização dos habitats da Ria de Aveiro (e de outros locais em Portugal, ex. Ria Formosa) por organismos do género Arenicola poderá estar precisamente ligado à proliferação das ostriculturas no país, potenciado por alterações globais. O impacto ecológico, decorrente da competição com espécies nativas, ainda é desconhecido. 

A verdade é que, por serem bioturbadores, os organismos do género Arenicola desempenham uma função ecológica muito importante ao promoverem a oxigenação dos sedimentos superficiais onde habitam, o que pode alterar os habitats intertidais. Por outro lado, a sua proliferação poderá ter um impacto socioeconómico positivo, uma vez que estes organismos são amplamente utilizadas como isco na pesca desportiva (ex. robalo, sargo, dourada ou solha), ao longo da costa Atlântica, incluindo recentemente em Portugal, onde se conhece como “bicho preto” ou “cagão”.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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