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Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

Primavera em casa: Saiba que sons de aves pode ouvir e o que querem dizer

30.03.2020

Magnus Robb, ornitólogo britânico especializado na gravação do canto de aves, ajuda-o a aproveitar ao máximo a sinfonia do mundo das aves, nesta época do ano. Em casa.

 

WILDER: Que espécies de aves podemos ouvir das nossas casas nesta época do ano?

Magnus Robb: Algumas espécies que a maioria das pessoas provavelmente podem ouvir são o melro, o rabirruivo-preto, a toutinegra-de-barrete-preto, o pardal-comum e o verdilhão.

 

 

Rabirruivo-preto. Foto: Jerzystrzelecki/WikiCommons

 

W: Regra geral, o que estão a comunicar?

Magnus Robb: Regra geral, as aves estão a tratar de dois assuntos muito importantes. O primeiro é atrair um parceiro e o segundo é defender o seu território. Normalmente, os cantos para atrair um parceiro ouvem-se mais no início da época de reprodução e costumam ser mais elaborados.

 

W: Há alguma hora do dia melhor para ouvir as aves?

Magnus Robb: Para ouvir um concerto dos cantos das aves no seu melhor, é preciso acordar cedinho. Algumas espécies como o pisco-de-peito-ruivo podem já estar a cantar duas horas antes do nascer do sol. Mas basta escutar meia hora antes do nascer do sol para ouvir uma grande variedade e intensidade de cantos. Durante a manhã, os cantos vão diminuindo e podemos ouvi-las mais em isolamento.

 

Toutinegra-de-barrete-preto. Foto: Bernard Dupont/WikiCommons

 

W: Quais as aves que começam a cantar mais cedo no dia? E as que cantam até mais tarde?

Magnus Robb: O pisco-de-peito-ruivo, o rabirruivo-preto e o melro são aves que começam bem cedo. Duas que começam mais tarde e ficam a cantar durante uma grande parte do dia são a toutinegra-de-barrete-preto e o verdilhão.

 

Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

 

W: Os cantos e chamamentos das aves são diferentes nesta altura do ano? São mais frequentes, por exemplo?

Magnus Robb: Sim, nesta época do ano os cantos são bem mais frequentes e elaborados. Estamos a chegar à melhor altura em termos de variedade e intensidade. Uma coisa interessante é que muitas vezes é possível saber com base no canto se um indivíduo ainda está em migração ou se já chegou. Todos os passeriformes aqui em Portugal têm que aprender o canto e, durante a migração, o canto ainda está em desenvolvimento. Ao conseguir defender um território fica logo cristalisado. Uma falta de perfeição e um excesso de experimentação costuma indicar uma ave em migração.

 

Verdilhão. Foto: Martin Kunz/WikiCommons

 

W: Há alguma espécie de ave que anseie por ouvir, quando chega a Primavera?

Magnus Robb: Das mais comuns, anseio por ouvir o rouxinhol-comum. Felizmente dá para ouvir a partir da minha casa e os primeiros jã estão a chegar a Portugal. Uma ave que provavelmente não vou ouvir este ano é o picanço-de-barrete porque não nidifica na minha zona. Ao chegar, esta ave imita espécies africanas que ouviu durante o Inverno e na migração, até mesmo o tentilhão do Norte de África que ouviu em Marrocos no dia anterior! Mas tenho outra espécie que canta a 500 metros da minha casa, que também traz sons de África para a Europa: a felosa-poliglota. Essa ainda não chegou.

 

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Canto do melro:

 

Canto do rabirruivo-preto:

 

Canto da toutinegra-de-barrete-preto:

 

Canto do pardal-comum:

 

Canto do verdilhão:

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Aprenda aqui a distinguir um canto de um chamamento das aves.

Conheça o projecto The Sound Approach, que quer popularizar a audição do canto de aves para estudar a sua distribuição, nesta reportagem da Wilder com Magnus Robb na Reserva Natural do Estuário do Tejo.

Nestes tempos em que estamos em casa, o biólogo Nuno Curado explica qual a importância da sua janela, varanda, terraço, logradouro ou jardim para a vida selvagem.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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