Programa de 30 episódios, concebido por equipa de investigadores da Universidade dos Açores, pode ser visto semanalmente em três canais da RTP.
Como se formou a dorsal mesoatlântica, a maior cordilheira montanhosa do mundo, no mar açoriano? Como é que os cientistas começaram a investigar o fundo do oceano? E que misteriosas criaturas vivem no mar profundo, abaixo dos 200 metros de profundidade, onde já não chega a luz do sol? Estas e outras perguntas estão a ser respondidas uma vez por semana na nova série televisiva “Minuto Azul Escuro”, que começou a ser transmitida no início de outubro na RTP3, RTP Açores e RTP Madeira. Em causa estão um total de 30 episódios que podem ser vistos nas quartas-feiras à noite ou então na RTP Play, desde o início da série.
Nas profundezas do mar açoriano, como descreve um dos episódios do “Minuto Azul Escuro”, existem por exemplo florestas que fazem lembrar as florestas de sequóias que existem nos Estados Unidos, com funções igualmente importantes para o ambiente. Todavia, em vez de árvores enormes abrigam misteriosos grupos de corais negros, considerados os seres mais antigos do planeta – observados aqui pela primeira vez numa campanha de investigação científica realizada em 2021.
De facto, foi apenas há poucos anos que muitos dos mistérios escondidos nas águas que rodeiam os Açores começaram a ser desvendados: desde jardins de corais fascinantes e espécies nunca antes registadas pela ciência à maior cordilheira montanhosa do mundo, a dorsal mesoatlântica.
“Sempre estivemos muito afastados do mar profundo, apesar de ser o nosso quintal”, disse à Wilder Telmo Morato, co-coordenador da Equipa de Investigação do Mar Profundo dos Açores, criada em 2012 no instituto OKEANOS (Universidade dos Açores), e responsável pela ideia da nova série. Com o início do levantamento cartográfico até aos 1000 metros de profundidade no mar do arquipélago, os cientistas começaram a obter novas revelações sobre a riqueza da geologia e da vida marinha nestas paisagens formadas por montes submarinos, chaminés hidrotermais e grandes planuras, conhecidas como planícies abissais. Para isso, contribuiu o aumento do financiamento dado pelo governo açoriano e também a criação de uma câmara subaquática de baixo custo – uma ‘drift cam’ (câmara de deriva, em português) – desenvolvida pela própria equipa.
No entanto, mantinha-se a dificuldade de dar a conhecer à sociedade tudo o que se tem vindo a descobrir e de combater a falta de literacia sobre o mar profundo, e daí nasceu a ideia para a nova série. “A maior parte das pessoas não tem noção do valor e da importância de conhecermos e preservarmos esta parte do planeta”, considera o investigador.
O principal desafio do programa, aliás, foi trabalhar com imagens captadas pelas câmaras subaquáticas de baixo custo, utilizadas apenas para o trabalho de investigação e não para serem transmitidas em televisão. Foram complementadas por ilustrações (no genérico) e por outras fontes, mas surgem ao longo da série. “Precisámos de convencer o Pepe Brix [realizador da série] a não ficar limitado à beleza e qualidade das imagens. Se tivéssemos apenas boas imagens, tínhamos de deixar cair mensagens importantes.”
Entre as várias mensagens transmitidas, está o muito que falta ainda saber sobre o mar profundo. E por isso mesmo, no final de alguns episódios, vão sendo lançadas perguntas que aguçam a curiosidade de quem assiste. Por exemplo, como foi possível demorarmos tanto tempo a descobrir a maior cordilheira montanhosa da Terra, no fundo do Atlântico? E que segredos pode o mar profundo ainda esconder da humanidade?
Já o nome “Minuto Azul Escuro” é uma referência à dimensão distante desta parte do oceano, que ocupa 66% da superfície do planeta mas está tão escondida. Além de ser “claramente inspirado pelo programa ‘Minuto Verde’, da Quercus – disse Telmo Morato – chama-se assim e não ‘Minuto Azul’ porque estamos a falar de uma parte do oceano que é escura, profunda, com uma pressão elevada e até um pouco hostil”. Ao longo dos próximos meses, à medida que forem sendo contadas estas 30 pequenas histórias, a equipa espera que a estranheza da sociedade face ao mar profundo diminua e que as pessoas comecem a falar de corais, chaminés hidrotermais e montes submarinos como falam hoje em baleias e golfinhos.