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Laonastes aenigmamus. Foto: Miroslav Bobek, Prague Zoo

Estes mamíferos estiveram desaparecidos durante milhões de anos

15.06.2016

A história da evolução leva-nos agora para os mamíferos. Num planeta dominado por dinossauros, havia pouco espaço para a sua evolução. Ainda assim, foi no Triássico superior, há cerca de 225 milhões de anos, que os primeiros mamíferos surgiram – 40 milhões de anos após o aparecimento dos seus ancestrais, os terapsídeos.

 

Por ser semelhante aos primeiros mamíferos, na medida em que se trata de um animal de pequenas dimensões e nocturno, começamos por um pequeno mamífero do Laos que entrou para o grupo das Espécies Lázaro em 2006, um ano após a sua descoberta.

Ao contrário dos primeiros mamíferos, este roedor asiático é herbívoro, embora possa também alimentar-se de alguns insectos, tal como os seus parentes mais antigos.

 

Laonastes aenigmamus. Foto: Miroslav Bobek, Prague Zoo

 

Em 2005, este pequeno roedor, que mede menos de 50 cm do nariz até à ponta da cauda e pesa menos de 500 gramas, foi descrito pela primeira vez e pensava-se que se tratava de uma nova espécie e de uma nova família. Mas em 2006, o recém-baptizado Laonastes aenigmamus passou à categoria de renascido dos mortos, pois foi determinado que pertence à família Diatomyidae, considerada extinta no Tortoniano, há 11 milhões de anos.

Esta outrora extinta família distingue-se por apresentar na estrutura óssea maxilar características semelhantes a duas distintas famílias de mamíferos: Ctenodactylidae (pequenos roedores africanos como o Ctenodactylus gundi, espécie na qual se encontrou pela primeira vez o parasita que causa a toxoplasmose) e Anomaluridae (a família onde se encontram os esquilos voadores).

Voamos agora no espaço e no tempo até à Austrália onde, em 1896, Robert Broom descreveu um fóssil de um pequeno marsupial a que chamou Burramys parvus – o que significa pequeno rato das rochas, ainda que não seja de facto um rato, tal como demonstram os estudos de dentição posteriormente feitos sobre os seus restos fossilizados.

Durante 70 anos, esta espécie foi considerada como extinta desde o Plistocénico, idade do fóssil descrito. Até que em 1966, acidentalmente, foi encontrado um exemplar vivo numa estância de ski na montanha Holtham, em Victoria. Desde 1992 que se conhecem duas populações actuais, ambas na Austrália: a de Victoria e outra em Nova Gales do Sul.

 

Burramys parvus. Foto: H. Bates
Burramys parvus. Foto: H. Bates

 

O pequeno marsupial, de apenas 45 gramas, vive acima dos 1300 metros, tendo desenvolvido um comportamento único entre os marsupiais australianos: entre Fevereiro e Julho, hiberna.

 

Burramys parvus a hibernar. Foto: H. Bates
Burramys parvus a hibernar. Foto: H. Bates

 

Depois do Sudeste Asiático e do continente Australiano, viajamos para a América do Sul, onde a maior espécie de javali do continente Americano andou despercebida até à década de 70 do século XX.

Em 1930, Rusconi descreveu uma espécie de javali a partir de restos encontrados em locais arqueológicos do norte da Argentina, com cerca de 1000 a 1100 anos. Apesar de se tratar de restos recentes, a espécie estava considerada extinta, pois não se conhecia qualquer evidência da sua presença actual.

Mas isso mudou em 1972, quando Ralph Wetzel, então da Universidade do Connecticut (EUA), liderou uma expedição à região de Gran Chaco. Esta área abrange partes do território da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina e é caracterizada por um clima quente e semi-árido.

Nessa expedição, foram encontradas três espécies de javali, entre elas uma desconhecida para a ciência. Em 1975, foi por fim publicado o estudo daquela que à partida seria uma espécie inédita. Mas o estudo mostrou que se tratava da mesma espécie descrita décadas antes por Rusconi.

Novo para a ciência, o renascido Catagonus wagneri era desde há muito conhecido pelos habitantes locais, sendo chamado localmente por Paguá, Taguá ou Curé-burro. Podendo atingir perto de 50 kg, esta espécie fez sempre parte dos alvos de caça das populações de Gran Chaco.

A população actual de Taguá tem estado em declínio e hoje já está longe da dezena de milhar de indivíduos. Embora a caça seja ainda uma realidade, a sua grande ameaça está na destruição do habitat. Nas últimas duas décadas, a região de Gran Chaco tem sido transformada em campos de cultivo de soja e de produção de gado, e está agora a ser apontada como uma região ideal para a produção de biocombustíveis, colocando em perigo a sobrevivência das já ameaçadas espécies deste ecossistema único.

 

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Sobre o autor:

Gonçalo Prista é doutorando da Universidade de Lisboa, em Ciências do Mar, e membro da Sociedade de História Natural de Torres Vedras. Trabalha nas áreas de paleoceanografia e paleontologia.

Numa série de crónicas dedicada às Espécies Lázaro, que tem vindo a ser publicada na Wilder, a primeira crónica deste autor foi sobre o Celacanto. Aqui pode ler a segunda, sobre ressuscitares marinhos, e a terceira crónica tem como tema as plantas. Já os animais ‘ressuscitados’ e a sua chegada a terra foram o tema da quarta crónica.

 

 

 

 

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