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Verónica Madeira: “Somos o último recurso”

15.04.2016

Verónica Madeira, 36 anos e natural de Coimbra, é video-vigilante no CNRLI desde 2011.

 

Verónica é uma das três video-vigilantes do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI) e faz turnos de oito horas a monitorizar as imagens captadas pelas 21 câmaras de video-vigilância instaladas em vários pontos dos cercados.

 

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Estudou Psicologia e é especializada em comportamento animal. Explicou-nos que se candidatou ao cargo por gostar muito da área de conservação de espécies ameaçadas. Para Verónica, o lince-ibérico é uma “espécie mítica, simbólica.” Salienta as suas “vocalizações engraçadas” e a “maneira elegante de andar. Quase parece que se deslocam sem pisar o chão.”

A sua função é “zelar pela condição física dos linces e detectar situações de emergência”. Na sala de video-vigilância, Verónica observa e regista os comportamentos destes felinos para ajudar a Ciência a conhecer melhor a espécie. Até há bem pouco tempo, quase nada se sabia; hoje, o lince-ibérico é das espécies mais observadas. “Fazemos o varrimento dos cercados (com as câmaras). Durante uma hora procuramos os linces e registamos os seus comportamentos. Estes dados são depois usados para vários estudos e para melhorar a gestão da conservação da espécie.”

Consoante a época do ano os registos variam. Na altura dos partos e até ao desmame das crias, os video-vigilantes têm um caderno para cada fêmea, onde são apontadas as informações mais relevantes.

As épocas de mais trabalho começam a partir dos emparelhamentos, quando se juntam os casais, lá para Dezembro. “Registamos as interacções dos animais, cada um do seu lado das vedações dos cercados. Analisamos se são positivas ou negativas e se há contacto visual ou olfactivo, por exemplo.” Além disso, a preparação das crias para a reintrodução na natureza também é muito importante. “Estamos atentos a muitos parâmetros, incluindo a forma como caçam para ver se estão aptas a ser libertadas.”

“Os momentos mais difíceis são os partos, especialmente aqueles que correm mal, a luta entre animais e o abandono das crias pela mães. Quando, através das imagens que estamos a ver, notamos que algo não está bem lá em baixo nos cercados, contactamos o resto da equipa que decide se deve, ou não, intervir. Muitas vezes é preciso optar pela cria artificial e terminar lutas, por exemplo.”

“A melhor parte deste trabalho é ajudar a conservar uma espécie tão ameaçada. Somos o último recurso.”

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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