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Samuel Silva: de guarda aos linces de Silves

21.04.2016

Samuel Silva, 45 anos e natural de São Paulo, Brasil, é um dos guardas dos portões do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI) desde 2013.

 

Samuel Silva também faz parte da história do lince-ibérico. É um dos guardas dos portões do CNRLI. Para trás ficou a sua vida em São Paulo (Brasil) e o trabalho no Hospital de Portimão. Por estes dias vive em Lagoa e é uma das pessoas que guardam os linces.

 

 

E tem interesse no trabalho que ali se faz. “Converso muito com uma das tratadoras, a Joana. Gosto de saber das novidades sobre o lince. E ela pergunta-me que animais tenho visto.”

Samuel passa muitas horas de guarda aos portões do centro, cuja entrada está vedada ao público em geral. Admite que este é um sítio privilegiado para ver natureza. “Comprei um guia de identificação de aves e tenho aqui comigo uns binóculos. Às vezes trago a câmara fotográfica, outras tiro fotos com o telemóvel. Não sou muito bom fotógrafo mas divirto-me.”

A lista dos animais que já viu é impressionante e faz inveja. “Tenho visto javalis, os veados aparecem de manhã e as raposas ao fim da tarde. Já as tenho visto aqui a brincar a noite toda ou a caçar na estrada.”

Samuel mostra-nos os trilhos feitos na serra pela passagem de animais selvagens como javalis e veados.

Também já viu muitas aves, como águias-de-Bonelli, perdizes, poupas, cotovias, felosas – que, diz, “não têm medo de nada” – e sapos, coelhos-bravos e abelhas, vindas das muitas colmeias aqui ao pé.

Uma noite passou por aqui um gato-bravo, espécie muito rara de ver. “Cheguei a pensar: será que é um lince que fugiu? Apanhei um susto…”

Samuel pôs um comedouro com migalhas de pão e sementes e um bebedouro junto ao portão do centro. Já identificou 22 espécies que ali vão comer. “É uma festa”, especialmente de manhã. “Há um sardão que gosta de banana e que vem aqui comer. E um pisco-de-peito-ruivo que manda no comedouro”. Ali costumam ir pintassilgos, alvéolas, pardais e várias outras espécies.

“Estando aqui, e com tempo, vê-se muita coisa. É um privilégio ter tempo. Temos de observar, caso contrário não vemos nada.”

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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