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Lara Baptista: “São felinos, curiosos e imprevisíveis”

27.04.2016

Lara Baptista, 29 anos e natural de Lisboa, é veterinária no CNRLI desde Julho de 2015.

 

A imagem do lince-ibérico nas placas da Reserva Natural da Serra da Malcata chamou a atenção de Lara Baptista há vários anos atrás. Já nessa altura gostava da natureza e da fauna selvagem. Antes de entrar no Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico, em Silves, esta veterinária fez voluntariado em centros de recuperação, trabalhou em hospitais de pequenos animais e durante sete meses trabalhou com aves num centro de recuperação de fauna selvagem em Espanha. “No ano passado tive conhecimento da vaga para médico veterinário no CNRLI e aqui estou eu”.

 


Lara conhecia bem a história do lince, mas pouco sobre o Programa de Reprodução e Reintrodução em Portugal. “Sabia muito pouco. O sucesso de um programa de reintrodução depende, em muito, de um programa de educação ambiental para as pessoas poderem conhecer a espécie e reconhecer a sua importância para o equilíbrio da biodiversidade. Mas penso que, de um modo geral, em Portugal não há muita informação.”

Grande parte do trabalho de Lara é observar os linces de Silves, através das imagens das câmaras de vídeo-vigilância, e avaliar comportamentos e possíveis problemas de forma a ser possível perceber quando é necessário intervir. “É muito raro termos de o fazer. Mas quando se impõe, os animais são anestesiados e aproveitamos para os observar, desde a ponta do pincel (nas orelhas) à ponta da cauda, para fazer exames complementares e colher todas as amostras que nos possam ajudar a conhecer mais sobre o indivíduo e a espécie.”

O que mais tem surpreendido Lara são os comportamentos. “São felinos, curiosos e imprevisíveis. Causam-nos muitos sorrisos.” Especialmente na época em que há crias no centro. “É desafiante observar por câmara os diferentes comportamentos das mães com as crias, umas mais práticas e outras mais inexperientes e preocupadas.”

Os melhores momentos são o acompanhar o crescimento das crias e vê-las ser reintroduzidas, no seu habitat natural. “Sentimos uma emoção muito grande quando abrimos as jaulas e elas saem a correr. É, sem dúvida, a melhor parte do trabalho.”

O mais difícil é receber a “informação da equipa de campo de que morreu um animal. É revoltante.”

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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