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As vozes da natureza urbana chegam em Agosto

31.07.2015

A que soa uma cidade? Certamente a automóveis, aviões, a conversas. Mas também a rãs, a chapins, melros e guinchos, a cigarras e a morcegos. De madrugada, nas horas de maior calor e à noite, gravámos todos estes sons para si. Aqui ficam os bastidores do programa “Sons da Natureza na Cidade”, uma parceria entre a Wilder e a Rádio Renascença para o mês de Agosto.

 

As rãs não coaxavam. O que só por si era um problema. Sentados à beira do charco, esperávamos. Mais do que ver queríamos ouvir. Daniel Pinheiro, realizador de documentários de natureza, com o gravador de sons a tiracolo, os auscultadores nos ouvidos e a parabólica na mão; eu com o caderno e a caneta a postos; o tripé com a câmara de filmar ao nosso lado.

O coaxar da rã-verde é um dos cinco sons que fazem parte da série “Sons da Natureza na Cidade”, uma parceria da Wilder com a Rádio Renascença. Em cada domingo de Agosto, vai ficar disponível um novo episódio no site da revista. Na rádio, estes episódios vão passar também todos os domingos de Agosto, às 08h45, às 12h45 e às 20h45.

Nestes cinco episódios, cada um com cerca de 1 minuto de duração, vamos mostrar os sons da vida selvagem das cidades, as fascinantes “vozes” de rãs mas também de aves, cigarras e morcegos, todos nossos vizinhos. Vamos descrever também algumas curiosidades sobre esses animais.

Eram 07h00 de uma manhã de Julho e começavam a passar carrinhas de abastecimento de cafés, varredores de ruas e madrugadores a correr antes de irem para o trabalho. E eis que uma rã rompeu o silêncio do charco com um coaxar sem cerimónia.

 

 

Depressa surgiram outras rãs a coaxar em resposta, no que parecia ser uma conversa acesa. Começámos a gravar. Passados poucos segundos, Daniel fez o sinal de perfeito, com os dedos da mão.

Antes, às 06h00, já tínhamos gravado os sons das aves ao amanhecer. Este é um dos maiores espectáculos da natureza, quando as aves têm as cidades e os campos só para elas. Escolhemos um local ajardinado com árvores altas e vários arbustos. Chegámos ainda o Sol não tinha nascido e uma luz ténue e fria envolvia a cidade.

 

 

Entre a copa das árvores, melros, chapins-carvoeiros, pardais, estorninhos-pretos e chamarizes faziam os seus chamamentos, preparando o dia que estava a começar. Aos primeiros raios de Sol, chegaram as andorinhas, com os seus voos rasantes. Era uma cidade de aves. E mal se ouvia outro som que não o delas.

Pouco depois gravámos o som dos guinchos a alimentarem-se nas margens do rio Tejo, em maré baixa.

 

 

Ao longe, alforrecas grandes e pequenas deslizavam no lodo e viam-se os camiões a passar na ponte.

À hora de maior calor, cerca das 14h00, captámos o som feito pelas cigarras. Nem mesmo com o barulho dos aviões estes insectos deixavam de se fazer ouvir.

 

 

O mesmo já não podemos dizer dos morcegos, porque emitem sons em frequências que não conseguimos ouvir sem ajuda de aparelhos especiais. Cada cidade tem os seus morcegos, que saem dos abrigos ao cair da noite para caçar insectos.

Para conseguirmos este som, pedimos ajuda ao biólogo Jorge Palmeirim, um dos maiores especialistas em morcegos do país. Às 21h30 estávamos os três a olhar para um candeeiro no meio da cidade. Dezenas de pequeninos morcegos esvoaçavam em redor da luz, atraídos pelos insectos.

Foi graças a um aparelho especial que conseguimos ouvir e gravar os estalidos que os morcegos emitem para se orientarem e localizarem as presas. Perante o olhar desconfiado de vários transeuntes, nas esplanadas a aproveitar a noite, estávamos maravilhados com estes pequenos animais e com as suas capacidades de voo.

[divider type=”thin”]Não perca os “Sons da Natureza na Cidade”

Os cinco episódios passam na Rádio Renascença todos os domingos de Agosto, às 08h45, 12h45 e 20h45. Estarão também disponíveis no site da Wilder e no site da Rádio Renascença.

Os sons e as imagens vídeo foram captadas por Daniel Pinheiro, à excepção dos sons dos morcegos, captados por Jorge Palmeirim.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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