Vamos ao banho? No momento em que entramos no mar e nos estamos a adaptar à temperatura da água, temos tempo para reparar nos peixinhos que passam junto às nossas pernas e pés. A Wilder perguntou a dois especialistas o que estamos a ver.
Ver pequenos peixes nas águas cristalinas, a nadar junto a nós, é sempre um bónus quando entramos no mar.
Mas quem serão esses peixes? A que espécies pertencem? Serão juvenis ou adultos? E o que estão a fazer? Levámos estas e outras perguntas a dois biólogos marinhos do MARE (Marine and Environmental Sciences Centre)-ISPA para nos ajudarem a perceber o que podemos ver da próxima vez que formos à praia.
Primeiro, os nomes.
Que espécies são mais comuns encontrarmos quando temos água pela cintura ou pelos joelhos?
“Nas praias do nosso litoral são sobretudo sargos de várias espécies – sobretudo sargos (Diplodus sargus) e safias (Diplodus vulgaris) – mas também robalo baila (Dicentrarchus punctatus), peixe rei (Atherina presbyter) e muitas outras espécies que gostam de águas pouco profundas e abrigadas”, respondeu Frederico Almada.
Pedro Duarte Coelho é da mesma opinião. “Aqui na zona centro – especialmente nas costas de Oeiras, Cascais, Sintra e Mafra – são muito comuns as safias (Diplodus vulgaris), os sargos (Diplodus sargus) e os peixe-rei (Atherina presbyter). Nos últimos anos têm também aparecido muitas bailas (Dicentrarchus punctatus).”
Estes peixes são, na sua grande maioria juvenis do ano ou do ano passado. São peixes que, “nas primeiras fases do ciclo de vida, evitam águas mais profundas com predadores de maiores dimensões”, explica Frederico Almada.
“Por vezes aparecem alguns adultos, uma vez que algumas destas espécies ainda se encontram em época de reprodução, aproximando-se mais da costa nesta altura do ano”, acrescenta Pedro Duarte Coelho.
Os peixes que vemos junto a nós estarão, muito possivelmente, a alimentar-se. Segundo este biólogo marinho, “muitas destas espécies alimentam-se de pequenos crustáceos, moluscos e, por vezes, de larvas de outros peixes”.
“Aquela curiosidade por investigar os nossos pés é porque ao caminharmos na areia fazemos com que alguns pequenos invertebrados (parecidos com as pulgas da areia mas muito mais pequenos) levantem do fundo e tentem escapar”, explica Frederico Almada. “Os pequenos sargos por exemplo, adoram aproveitar esta oportunidade para obter uma refeição fácil. Experimentem manter-se imóveis e remexer apenas a areia com os pés de uma forma lenta e regular. Vão ver que os sargos ganham confiança e se aproximam cada vez mais para a zona que estão a revolver.”
Estes pequenos peixes estão, assim, a alimenta-se a proteger-se e a crescer para mais tarde seguirem para águas mais profundas, para juntos dos outros adultos.
E por que estarão tão à superfície, a tão pouca profundidade?
“Estas espécies são pelágicas, gostam de ‘andar’ na coluna de água e estes cardumes de peixes mais pequenos acabam por se ‘sentir mais seguros’ em águas pouco profundas onde é mais difícil de serem predados por peixes maiores que apenas ocasionalmente se aventuram tão perto da costa”, responde Pedro Duarte Coelho.
Os meses em que as praias se enchem de pessoas são também os meses em que há mais peixinhos a nadar bem junto à costa, ainda que sargos, safias, peixes-rei e robalos-baila estejam presentes todo o ano na costa portuguesa.
Segundo estes biólogos marinhos, é na Primavera e Verão que podemos ver a grande maioria dos juvenis junto à costa e em águas muito pouco profundas.
“É mais comum encontrarmos maiores quantidades destes indivíduos entre a primavera e o final do verão devido aos seus períodos de reprodução”, explica Pedro Duarte Coelho.
“No início da primavera muitas das larvas destas espécies assentam e passam à sua fase juvenil mantendo-se nestas zonas de águas pouco profundas para se protegerem, alimentarem e crescerem. É por isso que as encontramos junto aos nossos joelhos durante as nossas férias.”
Frederico Almada nota que “é quase como se muitas das praias que frequentamos fossem verdadeiros berçários marinhos, onde muitos peixes, alguns deles acabados de eclodir dos seus ovos ou de chegar de uma breve passagem pelo plâncton, coabitam connosco nas águas ricas em nutrientes da costa portuguesa”.
“Curiosamente, esta confluência de pessoas e juvenis de peixes para as zonas costeiras é mais intensa na mesma altura do ano, o que representa uma responsabilidade de conservação acrescida para todos os que estão agora na praia.”
Fica o alerta.