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Aqui podemos ver linces

18.04.2016

O Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves, está guardado por portões que vedam a entrada a visitantes, tudo para manter a tranquilidade dos linces-ibéricos que ali vivem. Ainda assim, desde Dezembro de 2014 existe um observatório erguido no cimo de um monte ali por perto de onde poderá ver os felinos nos seus cercados.

 

O observatório fica a poucos minutos do CNRLI e a 20 minutos de São Bartolomeu de Messines, ao lado da estrada que serpenteia a serra. Sai-se da estrada e entra-se num caminho de terra batida, com painéis informativos sobre o habitat e a espécie que está prestes a observar. Ao fundo do caminho, debruçada sobre o vale, ergue-se a estrutura. Graças a um telescópio fixo, pode espreitar os linces que vivem nos cercados, bem lá em baixo.

 

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Quando visitámos o observatório vimos três linces. Um sentado ao sol e dois a passear junto aos cercados.

No observatório estavam Isabel Duarte e Nelson Viegas, de Loulé. Esta professora de Ciências e Matemática, de 50 anos, e este programador informático, de 40 anos, estavam a apreciar a paisagem e a observar os linces lá em baixo. Trouxeram também um telescópio para observar o céu nocturno e câmaras fotográficas.

“Esta é a primeira vez que vimos a este observatório”, contou Isabel. Mas antes de existir esta estrutura já ali tinham estado. “Já aqui tínhamos vindo espreitar os linces. Mas não os fotografámos.” E Nelson explicou: “se for para incomodar os animais, prefiro não tirar nenhuma fotografia”.

Isabel e Nelson são apaixonados por fotografia. “Adoramos fotografar a natureza”, disse Isabel. “Hoje já fotografámos toutinegras, cinco espécies de orquídeas, borboletas, libélulas e gafanhotos.” Fazem isto simplesmente porque gostam. “Não aspiramos a ser fotógrafos.”

 

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Os dois debruçaram-se sobre o varandim do observatório e olharam para os linces. “Sabemos pouco sobre eles, só o que sai nos jornais”, admitiu Nelson. “Mas sei que fazem um excelente trabalho no CNRLI. Espero que não seja em vão.”

O trabalho no CNRLI é só uma parte do projecto conservacionista do lince-ibérico. A preparação do habitat e as reintroduções na natureza fazem parte deste puzzle complexo. “Gostava muito de ver os linces que estão a ser libertados na natureza”, disse Isabel. Já foram a Mértola mas de linces só mesmo aqueles desenhados nos sinais de trânsito. Poderá ser uma questão de tempo.

 

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[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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