Uma equipa internacional de investigadores analisou mais de 5500 espécies de peixes, aves, tartarugas e mamíferos marinhos e concluiu que as redes traficas marinhas estão organizadas de forma semelhante à escala global.
As comunidades de vertebrados marinhos funcionam de forma semelhante, ainda que estejam separadas por milhares de quilómetros e sejam compostas por espécies diferentes, defende esta equipa de investigadores, entre eles Miguel Bastos Araújo, do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) e Ester Serrão, do CCMAR-Centro de Ciências do Mar, da Universidade do Algarve.
Na investigação, publicada esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), participaram instituições de Portugal, Colômbia e Noruega.
O trabalho confirma que, assim como acontece com as comunidades terrestres, os vertebrados marinhos que vivem em regiões ambientalmente semelhantes mostram uma convergência trófica. Isto quer dizer que funcionam de forma equivalente em todos os oceanos do planeta.
Para chegarem a esta conclusão, os investigadores estudaram as dietas e os papéis ecológicos de 5.569 espécies de peixes, aves, tartarugas e mamíferos marinhos ao longo de milhares de quilómetros.
Ficaram surpreendidos ao encontrar regularidades na forma como está estruturada a cadeia alimentar em cada comunidade. “Esta convergência atrófica mostra que a natureza tende a resolver desafios ecológicos semelhantes com soluções funcionalmente equivalentes, mesmo quando as espécies envolvidas não têm qualquer grau de parentesco”, comentou, em comunicado, Juan David González-Trujillo, professor da Universidade Nacional da Colômbia.
As 5.569 espécies estudadas foram agrupadas em 11 grupos tróficos, segundo os seus hábitos alimentares. A partir destes dados, os investigadores identificaram seis tipos principais de comunidades tróficas que se repetem em regiões com condições oceanográficas semelhantes, determinadas, principalmente, pela profundidade, temperatura, produtividade e salinidade.
Três tipos de comunidades encontram-se, principalmente, em mar aberto e caracterizam-se por terem uma estrutura simples, com uma baixa diversidade de grupos tróficos. As outras três comunidades encontram-se em zonas costeiras, onde a maior disponibilidade de recursos se reflecte numa grande variedade de grupos tróficos.
Segundo os investigadores, este trabalho define as bases para uma nova geração de modelos ecológicos, capazes de integrar a função e a tolerância ambiental como eixos chave para a conservação marinha.
“O nosso estudo mostra que o ambiente impõe restrições que favorecem o aparecimento de comunidades ecologicamente análogas, independentemente da identidade taxonómica das espécies”, disse Miguel Bastos Araújo. “Esta abordagem permite-nos passar de uma biogeografia centrada nas espécies para outra centrada nas funções ecológicas que sustentam os ecossistemas.”
Além de reforçar o conhecimento sobre os processos que estruturam a biodiversidade marinha, este estudo ajuda a antecipar os efeitos das alterações climáticas na vida nos oceanos. “Estes padrões de convergência funcional indicam-nos que os ecossistemas marinhos poderão responder de forma mais previsível às alterações ambientais do que aquilo que se pensava”, concluiu Miguel Bastos Araújo.