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Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Em 10 anos nasceram 16 crias de quebra-ossos na natureza na Andaluzia

29.04.2025

Um total de 16 crias de quebra-ossos (Gypaetus barbatus) nasceram na natureza na Andaluzia desde 2015, ano em que nasceu a primeira cria em liberdade, a fêmea Esperanza, revelou a agência Europa Press.

A espécie desapareceu desta região espanhola em 1986 e desde então têm sido feitos esforços de conservação. Hoje estima-se que existam 65 quebra-ossos na Andaluzia.

Estão registados 11 territórios reprodutores ocupados, nove no Parque Natural das Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas (em Jaén) e dois no Parque Natural Sierra de Castril (Granada).

O projecto de reintrodução de quebra-ossos começou em 2006 com aves criadas em cativeiro e no âmbito do Programa Europeu de Espécies Ameaçadas EEP (European Endangered Species Programme). Até ao momento foram libertados na Andaluzia 90 exemplares nascidos em diferentes centros de reprodução no âmbito deste programa europeu. Um deles é o Centro de Cria de Quebrantahuesos de Guadalentín, situado em Cazorla (Jaén). Em 2024, este centro bateu o recorde de crias nascidas num ano com 11 exemplares.

O Programa de Reintrodução de Quebra-ossos desenvolvido pela Junta da Andaluzia quer conseguir uma população autónoma e estável na região através da libertação de jovens aves pelo sistema de “hacking”. Com esta técnica consegue-se que a ave assimile a área onde foi libertada como o seu local de nascimento e, por isso, que regresse a ela para se reproduzir.

Durante os primeiros anos, estas aves fazem grandes movimentos e quando atingem a idade reprodutora, entre os sete e os dez anos, regressam às suas origens e aí fixam território onde, “com um pouco de sorte, formam um casal e têm descendência”, segundo a Consejería de Sostenibilidad y Medio Ambiente, citada pela agência Europa Press.

O “hacking” consiste em libertar em ninhos aves jovens, com cerca de 90 dias de idade, quando ainda lhes falta cerca de um mês para começarem a voar mas quando já são capazes de se alimentarem sozinhas. A comida é depositada nos ninhos de forma a não terem contacto com o ser humano.

Em 2024 foram libertadas sete crias, quatro no Parque Natural das Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas e três no Espaço Natural de Sierra Nevada.

De momento, esta espécie distribui-se por mais territórios. “Quando, na primavera, começam os movimentos dispersivos, os exemplares não territoriais visitam e percorrem as grandes cadeias montanhosas de toda a Ibéria, chegando inclusivamente a terras lusas e francesas, tendo-se registado, numa ocasião, o atravessamento do Estreito de Gibraltar para o continente africano”, acrescentaram as autoridades da Andaluzia.

Actualmente, a população selvagem de quebra-ossos na Andaluzia está estimada em 65 exemplares. É “um número considerável, que aumenta todos os anos graças à introdução de exemplares procedentes dos centros de reprodução e aos nascimentos da população selvagem”.

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.

Em Março de 2022, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.

Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.

O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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