É nesta época, sensivelmente até Maio, que se podem ver as flores amarelas de algumas das mais agressivas plantas invasoras de Portugal, as acácias. É, por isso, a altura ideal para ajudar a identificar as acácias da sua região, desafiam os investigadores.
É difícil ignorar o amarelo vibrante que pinta as margens de estradas e linhas de água, montanhas e outras paisagens do nosso país nesta época do ano.
“Mas o que muitos (ainda) celebram como um espetáculo natural de grande beleza é, na verdade, um sinal de alerta”, garante a especialista em espécies invasoras, professora da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) e investigadora no CERNAS, Hélia Marchante. “As acácias, originárias da Austrália, são espécies invasoras e estão a expandir-se de forma descontrolada, ameaçando outras espécies, os ecossistemas, a nossa qualidade de vida e até a economia”, avisa.
As espécies de acácias, como a mimosa (a que os cientistas chamam Acacia dealbata), a austrália (Acacia melanoxylon), a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), entre outras, foram introduzidas em Portugal para fins ornamentais, para controlo da erosão e outros fins.
Mas “estas plantas são agora uma das maiores ameaças à biodiversidade em Portugal”, assevera. “Elas substituem as espécies autóctones, alteram o solo, reduzem a disponibilidade de água e criam um monopólio verde que sufoca a diversidade natural.”
E não é só. O pólen das acácias “é alergénico, afetando a saúde respiratória de muitos cidadãos. Para quem sofre de rinite ou asma e vive/trabalha perto de acácias, esta pode ser uma época especialmente difícil. Além disso, os custos económicos associados à remoção destas plantas e ao impacte em setores como a floresta são significativos, reforçando a necessidade de intervenções coordenadas e continuadas.”
Embora todas as acácias integrem a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Decreto-Lei n.º 92/2019), sendo proibida a sua detenção, cultivo e comercialização, “o problema continua a ser grave”, adverte Hélia Marchante.
E agora, o que podemos fazer?
Segundo Hélia Marchante, cada cidadão pode fazer a diferença”. “Não é preciso ser cientista ou técnico florestal para combater esta invasão – basta ter um olhar atento e vontade de agir”.
Uma das formas é participar numa “caça ao tesouro” ambiental. Para isso basta identificar as acácias na sua região e pô-las no mapa através de aplicações de ciência cidadã gratuitas como o iNaturalitst/BioDiversity4All.
Para o ajudar, o site invasoras.pt ensina-o a distinguir as acácias que temos em Portugal. E no projeto “invasoras.pt” criado no iNaturalitst/BioDiversity4All, pode consultar os registos já existentes. “Esta informação é crucial para definir estratégias de gestão eficazes e entender melhor o comportamento destas espécies no nosso território.”
Outra das formas é evitar plantar estas espécies em jardins ou propriedades privadas. “Em vez delas, opte por árvores autóctones que sustentam a biodiversidade e ajudam a preservar os ecossistemas locais. Colher raminhos floridos pode ser atrativo, mas vai levar as alergias para dentro de casa!”
Pode ainda juntar-se às iniciativas para remover acácias (e outras plantas invasoras) que são organizadas a nível local. Procure informação junto da sua Câmara Municipal ou de organizações de defesa do ambiente e participe ativamente. Na Semana sobre Espécies Invasoras: Portugal & Espanha, que decorrerá este ano de 3 a 11 de maio, haverá muitas atividades. Pode organizar a sua ou participar noutra atividade programada.
O caso da acácia-de-espigas: o seu controlo biológico colocou Portugal na linha da frente da Europa
Entre as espécies de acácias invasoras, merece destaque a acácia-de-espigas. Esta pequena árvore invade dunas costeiras e outros habitats sensíveis, substituindo a vegetação nativa e comprometendo o equilíbrio dos ecossistemas. Contudo, uma solução inovadora tem sido implementada: o uso de controlo biológico.
Um pequeno inseto australiano, a vespa-formadora-de-galhas Trichilogaster acaciaelongifoliae, foi introduzido em Portugal em 2015, depois de 12 anos de testes em laboratório e análises de risco realizados por uma equipa que reúne investigadores da ESAC-IPC e do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra. Este inseto deposita os seus ovos nos botões florais da acácia-de-espigas, impedindo-a de produzir flores e, consequentemente, sementes. Sem capacidade de reprodução eficaz, a expansão da acácia-de-espigas está assim a ser travada de forma natural e sustentável.
“Os resultados têm sido encorajadores. Observamos uma redução significativa na produção de sementes e no vigor das populações de acácia-de-espigas em várias áreas de invasão”, salienta Hélia Marchante.
Segundo a especialista, “este exemplo demonstra que soluções baseadas na natureza podem ser eficazes no combate às plantas invasoras, mas requerem monitorização e cooperação entre cientistas, gestores de ecossistemas e a comunidade”.
No âmbito do projeto de ciência cidadã “Trichilogaster acaciaelongifoliae in Iberian Peninsula”, muitos cidadãos têm ajudado a mapear a expansão deste pequeno ajudante no controlo da acácia-de-espigas. Hélia Marchante desafia todos os que ainda não o fazem a também registar as galhas que observam no iNaturalist/BioDiversity4All.
Existem igualmente diferentes agentes de controlo biológico que estão a ser explorados para outras acácias, mas estão ainda em fase de teste.
“O controlo das plantas invasoras é uma causa urgente”, insiste. “Cada passo conta para devolvermos o equilíbrio aos nossos ecossistemas e para garantirmos um futuro mais saudável e sustentável para todos”.
Se quiser saber mais sobre como controlar as acácias, o Manual de Boas Práticas para a Gestão e Controlo de Plantas Invasoras Lenhosas em Portugal Continental, publicado recentemente por Liliana N. Duarte, Elizabete Marchante e Hélia Marchante, inclui esta espécie. Um exemplar pode ser seu após um clique ou pedindo um pelo correio. Veja como aqui.
Saiba mais.
Em Portugal pode encontrar e registar várias espécies de acácias invasoras, que são descritas no âmbito do projecto Invasoras.pt. As mais frequentes são as seguintes:
Mimosa (Acacia dealbata): Mede até 15 metros, com folhas perenes e verdes-acinzentadas e flores amarelo-vivas. Presente em todas as regiões de Portugal Continental e na ilha da Madeira.
Acácia-de-espigas (Acacia longifolia): Arbusto ou pequena árvore perene, com espigas amarelo-vivo e muito encontrada em dunas. Ocorre nas regiões de Trás-os-Montes, Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve e no arquipélago da Madeira (ilhas da Madeira e Porto Santo).
Acácia (Acacia saligna): Arbusto ou pequena árvore perene, de folhas verde-azulado e flores reunidas em “bolinhas” amarelo-dourado. Encontra-se na Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve), arquipélago dos Açores (ilha de São Miguel) e arquipélago da Madeira (ilha da Madeira).
Austrália (Acacia melanoxylon): Árvore perene, de folhas ligeiramente em forma de foice e flores reunidas em “bolinhas” amarelo-pálido. Encontra-se em todas as regiões de Portugal Continental e também no Açores (ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores) e Madeira (ilhas da Madeira e de Porto Santo).