Venha com o correspondente da Wilder e perca-se numa horta à procura de pintassilgos, melros, verdilhões e muitas outras aves e suba à Serra da Peneda à procura do lobo e da cabra-ibérica.
A pausa da Páscoa é sempre uma boa oportunidade de rumar a Norte, até Melgaço, para passar uns dias em casa da minha Tia Clara. A horta é o local onde passo algumas horas à procura das minhas amigas aves ou, como diz a Tia Clarinha, “onde vou procurar passarinhos”. “Podias aproveitar para podar o vimieiro” remata sempre o comentário. Ora, como o vimieiro é um dos poisos preferidos dos “passarinhos”, é óbvio que não podei nem um raminho.
Este vimieiro está bem perto das couves e das hortícolas, onde um leque variado de aves procura uma refeição. Os melros, verdilhões, pintarroxos, pintassilgos e mesmo um tordo-pinto, foram alvo de várias “perseguições” na busca de uma fotografia decente. Mas nada feito. Já me estava a ver a podar o vimieiro quando surge uma tímida escrevedeira-de-garganta-preta que me salva do trabalho.
Mesmo ao lado, os chapins (o azul, o real e o de cauda) procuram insectos por entre as latadas da vinha ainda sem folhas, as cerejeiras e figueiras já com rebentos e as verdejantes laranjeiras e tangerineiras. Um pisco-de-peito-ruivo começa a cantar empoleirado numa tangerineira. Era como se, de repente, um fruto desta árvore tivesse ganho vida, aos últimos raios de sol.
Mas outros sons chegam-me dos pinheiros-bravos e dos carvalhos ao lado da horta. Gralhas, gaios, pica-paus e pegas fazem parte do coro que percorre constantemente o vale, juntando-se aos chapins-carvoeiros, às trepadeiras e às carriças.
Na manhã seguinte acordei cedo, decidi subir a serra e ir a Castro Laboreiro e à Peneda, terras do lobo e da cabra-ibérica. Procuro sempre observar estes dois mamíferos, embora tenha consciência de que é mais um sonho que uma realidade.
A primeira paragem é junto a Lamas de Mouro para tentar ver algumas aves florestais que costumam ser comuns nas florestas mais adultas. A trepadeira-azul, a tordoveia e o peto-verde são as primeiras a aparecer. Um gavião mergulha por entre um bando de andorinhas-das-rochas, mas sem sucesso.
Junto à ribeira, uma alvéola-cinzenta faz companhia as duas petinhas-dos-prados. Por cima de mim, um som conhecido obriga-me a um trabalho do tipo “onde está o Wally?”. Encontrar a ave mais pequena da Europa, entre ramos e raminhos, não é fácil. Fotografá-la ainda será mais, pois estas pequenas estrelinhas não param quietas um segundo. Quase 30 minutos depois, uma delas decide descansar. Foi a minha oportunidade de ver de perto uma estrelinha-de-cabeça-listada.
Em direcção ao planalto de Castro Laboreiro, sempre atrás dos mamíferos de sonho, uma cia a procurar comida junto aos muros de pedra dá-me a oportunidade de ver uma espécie nova (daquelas que gostamos de acrescentar à lista pessoal), a petinha-das-árvores. Em volta dos grandes rochedos, duas águias-cobreiras.
Sem mamíferos, a não ser os domésticos, são horas de descer da Serra. O percurso é sempre o mesmo e passa por procurar sinais do regresso da grande águia (a real) à Peneda, mas nada feito. Vou devagar, pois as vacas neste sítio têm uma tendência para se deitarem nas estradas. Dois corvos voam em círculos por cima do asfalto.
E assim se passou mais uma Páscoa em casa da minha Tia Clara. Talvez para a próxima pode o vimieiro. Prefiro as aves, mas sei que qualquer dia vai sobrar para mim.
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