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Portugal tem 540 espécies ameaçadas na Lista Vermelha da UICN

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A nova Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), referência mundial para as espécies ameaçadas de extinção, foi revelada a 27 de Junho. Portugal surge com 540 espécies classificadas como ameaçadas. No total, o planeta terá agora 163.040 espécies ameaçadas.

A Lista Vermelha de 2024 avaliou um total de 163.040 espécies em todo o mundo: 63.470 vertebrados, 27.752 invertebrados, 71.006 plantas e 812 fungos e protistas. Este é o valor mais elevado de sempre.

Destas 163.040 espécies ameaçadas, 26.367 são plantas com flor, 3927 são peixes, 2873 são anfíbios, 2451 são moluscos, 2415 são insectos, 1844 são répteis, 1354 são aves e 1338 são mamíferos. Há ainda 181 espécies de musgos nesta Lista Vermelha e 272 espécies de aranhas.

São várias as alterações em relação à lista anterior. A começar por uma alteração que diz muito a Portugal, a passagem do lince-ibérico (Lynx pardinus) de Em Perigo para Vulnerável.

Olhando para as espécies em Portugal, esta nova lista vermelha da UICN revela que há um total de 540 espécies ameaçadas no nosso país, isto é, que se incluem numa de três categorias de conservação desfavorável: Criticamente Em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU).

A lista vermelha portuguesa tem à frente os invertebrados (com 170 espécies ameaçadas), seguidos das plantas (141), dos peixes (89) e dos moluscos (86). Há também 17 espécies de aves, 15 de mamíferos, 14 de fungos, 4 de anfíbios e 4 de répteis.

Em relação às classificações de espécies de animais, temos em Portugal 6 espécies extintas, 17 possivelmente extintas, 115 Criticamente em Perigo, 118 Em Perigo e 152 Vulneráveis, num total de 385 espécies. Quanto a plantas, há 3 espécies extintas, 32 Criticamente Em Perigo, 56 Em Perigo e 53 Vulneráveis, num total de 141 espécies. E depois ainda temos 14 espécies de fungos ameaçadas: 3 Em Perigo e 11 Vulneráveis.

“A Lista Vermelha da UICN tem vindo a informar a acção para a conservação há 60 anos”, lembrou, em comunicado, Grethel Aguilar, directora-geral da UICN. “Como esta Lista nos mostra hoje, a biodiversidade enfrenta ameaças cada vez maiores, desde a caça ilegal às alterações climáticas, passando pelas espécies invasoras. Felizmente que a Lista Vermelha também aponta soluções. Com uma acção conservacionista sustentada, colaborativa e baseada na Ciência e a uma escala suficiente, podemos resgatar espécies do limiar da extinção”, acrescentou.

Entre as novidades desta Lista Vermelha está a avaliação do elefante asiático no Bornéu, feita pela primeira vez enquanto sub-espécie distinta. Estima-se que restem apenas mil destes elefantes na natureza. “A sua população diminuiu nos últimos 75 anos, inicialmente por causa da desflorestação que destruiu a maioria do habitat desta espécie”, segundo a UICN. “À medida que a população humana rapidamente se expande, os elefantes estão a entrar em paisagens dominadas pelo homem à procura de alimento, onde podem causar danos às culturas agrícolas e, como consequência, podem ser mortos.” Outras ameaças são as explorações mineiras, construção de auto-estradas, colisão com veículos e a caça furtiva pelo marfim.

A UICN destaca também a ameaça para os répteis da Grande Canária por causa de cobras de espécies invasoras, como a cobra-real-californiana (Lampropeltis californiae). O lagarto gigante da Grande Canária (Gallotia stehlini) passou de Pouco Preocupante a Criticamente Em Perigo, por exemplo.

Outro exemplo é o do comércio ilegal que ameaça várias espécies de cactos, em especial espécies endémicas do deserto de Atacama no Chile.

Em 2010 definiu-se como meta avaliar o estado de ameaça de 160.000 espécies. “Esta Lista Vermelha ultrapassou esse número. Mas enquanto que estamos a cumprir no que concerne a plantas e animais, ainda há trabalho a fazer quanto aos invertebrados e fungos”, lembrou Jon Paul Rodríguez, coordenador da Comissão para a Sobrevivência das Espécies na UICN.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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