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Peixes-zebra. Foto: Oregon State University

Novo estudo conclui que os peixes se deixam contagiar pelas emoções, tal como os humanos

27.03.2023

Uma investigação do Instituto Gulbenkian da Ciência mostra que os peixes-zebra recorrem a mecanismos semelhantes aos das pessoas para lerem e imitarem emoções.

Já lhe aconteceu sorrir porque alguém lhe tinha sorrido primeiro, ou sentir irritação porque um amigo estava mal humorado? A isso chama-se contágio emocional, que é a tendência que temos para nos sintonizarmos com as emoções dos outros.

Agora, um estudo científico desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) por uma equipa de oito investigadores confirmou que este comportamento social acontece também nos peixes, que formam o grupo mais antigo de vertebrados. Os resultados foram publicados pela revista Science.

“Esta forma básica de empatia está programada no nosso cérebro há milhares de anos e é fácil de perceber porquê. Quando há uma ameaça, este fenómeno permite que o medo se espalhe rapidamente, o que aumenta a probabilidade de sobrevivermos”, explica o IGC. “Para além disso, ao imitar emoções, conseguimos estabelecer vínculos sociais com os outros.”

Para a realização do estudo, a equipa tentou compreender se o peixe-zebra – uma espécie muito usada em estudos de laboratório – também necessita de oxitocina para adoptar emoções de outros peixes. Assim, os cientistas comprovaram que ao depararem com um grupo de peixes da mesma espécie que exibe sinais de alarme, os peixes-zebra imitam esse comportamento.

Pelo contrário, outros peixes-zebra com modificações genéticas na oxitocina ou nos seus receptores, “continuam a nadar calmamente mesmo quando vêem os seus vizinhos em apuros”. “Isto demonstra que esta molécula [a oxitocina] é necessária para que o medo e os comportamentos a ele associados se propaguem, por exemplo, quando um dos membros do cardume foi atacado”, avança o IGC.

Os investigadores aperceberam-se também de que os peixes sem mutações “se aproximam do cardume que observaram em alerta mesmo quando este já voltou a nadar normalmente”, passando a comportar-se de forma semelhante aos vizinhos. Apesar de os pôr em risco, “a aproximação pode ajudar o grupo a recuperar do stress”, esclarece Kyriacos Kareklas, investigador no IGS e co-primeiro autor do estudo. Estas acções orientadas para o outro foram já descritas nos mamíferos e são também reguladas pela oxitocina.

Por outro lado, a oxitocina não é o único fator comum entre peixes e humanos no que diz respeito ao contágio emocional. “As áreas cerebrais que os peixes-zebra usam para reconhecer e sintonizar emoções são equivalentes a algumas que nós humanos também usamos”, nota por sua vez o investigador principal Rui Oliveira, que coordenou esta investigação.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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