Binóculos. Foto: Stevepb/Pixabay

Wilder lança série para tornar a observação de aves mais fácil ao longo do ano

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Todos os meses daremos sugestões de cinco aves para observar e sugestões do que fazer para as ver mais facilmente. A série “Aves do Mês” começa já esta quarta-feira, a 1 de Março, com textos de Gonçalo Elias e fotografias de José Frade. Um passo a passo na observação de aves. Há 470 espécies à sua espera.

Existem actualmente cerca de 470 aves em Portugal. Destas, 300 são aves regulares, ou seja, são vistas todos os anos. Na Madeira e nos Açores o número de espécies regulares é bastante menor devido ao efeito da insularidade.

Chamariz (Serinus serinus). Foto: José Frade

As outras 170 são espécies divagantes, não pertencem à nossa fauna habitual. Por isso têm o estatuto de raridade, embora algumas estejam no limiar da regularidade, ou seja, são “raridades anuais”.

Em Portugal continental são cerca de 200 as espécies reprodutoras. Dois terços estão por cá todo o ano; um terço são essencialmente migradoras, vêm até cá para se reproduzirem e passam o Inverno em África. Há depois cerca de 100 que não nidificam e aparecem por cá durante as suas migrações ou no Inverno.

Na Madeira, as espécies nidificantes são cerca de 40, tal como nos Açores.

Assim, a lista de espécies de Portugal é “bastante diversificada”, explica Gonçalo Elias, 54 anos, ornitólogo e escritor naturalista dedicado às aves selvagens.

Mas ainda que não faltem razões para entrar neste novo mundo e começar a observar aves, a verdade é que esta actividade pode parecer intimidante. Existem centenas de espécies mas muitas são difíceis de ver e ainda mais difíceis de identificar, o que pode desmotivar-nos a todos.

Para ajudar a organizar o ano de qualquer observador de aves, quer esteja agora a começar ou não, a Wilder lança no próximo dia 1 de Março, quarta-feira, a nova série “Aves do Mês”, da autoria de Gonçalo Elias e com fotografias de José Frade, ornitólogo, autor e fotógrafo de 56 anos.

Peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus). Foto: José Frade

Estes dois especialistas em aves selvagens têm vindo a trabalhar para tornar a observação de aves mais fácil. Gonçalo Elias é o responsável pelo portal Aves de Portugal e o perito que identifica as aves no Que Espécie É Esta? da Wilder; José Frade é um dos coordenadores do grupo de Facebook Aves de Portugal Continental. Ambos publicaram recentemente o Guia Fotográfico Aves de Portugal Continental e fizeram parte da equipa do site Aves do Mundo PT que traduziu nomes de mais de 11.000 espécies de aves do mundo para Português.

Agora estão na Wilder todos os meses. “Esta nova série tem um duplo objectivo: por um lado, divulgar as espécies de aves que podemos encontrar no nosso país e, por outro, desafiar os leitores a procurá-las, a observá-las e a fotografá-las”, apela Gonçalo Elias. “Queremos chamar a atenção para o facto de que o elenco de espécies que podemos encontrar varia muito ao longo do ano”, sublinha.

“A observação e a fotografia das aves no seu meio natural é uma forma interessante e agradável de ficarmos a conhecer melhor essas espécies.”

Como vai funcionar a série “Aves do Mês”

“Em cada mês teremos uma selecção de cinco espécies de aves. Estas serão escolhidas tendo em conta a facilidade de detecção nesse mês”, detalha este ornitólogo português. No caso das aves migradoras, “serão mencionadas apenas na época em que ocorrem por cá”, e quanto às espécies residentes – que podem ser vistas o ano todo – “serão distribuídas pelos diferentes meses, tentando que cada espécie seja referida num mês em que a sua detecção é mais fácil”. Isso poderá ser porque essa ave se mostra mais nesses dias do ano ou porque a conseguimos ouvir mais vezes, por exemplo.

Por outro lado, também haverá a preocupação de distribuir a selecção de cinco espécies pelos vários grupos de aves, acrescenta Gonçalo Elias, procurando ter em cada mês espécies aquáticas além das aves terrestres, e dentro destas últimas aves de diferentes portes – desde os passeriformes às aves de rapina, por exemplo. “A ideia é pois que em cada mês haja uma selecção diversificada.”

Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula). Foto: José Frade

Em cada artigo mensal, Gonçalo Elias dará igualmente dicas gerais de observação, indicando ainda qual será a melhor forma de proceder para observar as aves do mês. “A verdade é que as dicas dadas para uma determinada espécie também irão servir, mais tarde, para várias outras. Desta forma espero conseguir ajudar os leitores a aprender como se faz para encontrar as aves no seu ambiente natural”, afirma.

Uma actividade com cada vez mais adeptos

Desde há 25 anos, a evolução da observação de aves tem sido “enorme”. Gonçalo Elias explica esta expansão com o “maior interesse da sociedade por questões de natureza e ambiente, o que tem despertado em muitas pessoas a vontade de contactar com os seres vivos no seu meio natural; a maior facilidade de acesso à informação, permitindo-nos saber onde e quando podemos encontrar determinadas espécies; e por fim o aparecimento da fotografia digital, que tornou muito mais acessível a obtenção de fotografias de animais selvagens”.

Saída à Lagoa de Óbidos. Foto: Gonçalo Elias

“Sendo Portugal um país que, devido ao seu clima, reúne condições para a prática desta actividade ao longo de todo o ano, penso que faz todo o sentido promovermos o conhecimento e o contacto com o mundo que nos rodeia e, em particular, com as nossas aves. Nesta nova secção esperamos estimular ainda mais o interesse pela observação de aves no nosso país.”

Pela sua parte, Gonçalo Elias adianta que espécies mais gostaria de ver este ano e em que alturas as vai tentar ver.

“Gostava muito de ver o cortiçol-de-barriga-branca, espécie que só vi uma única vez na vida e já foi há mais de 30 anos, em Doñana (Andaluzia). Em Portugal a espécie é muito rara, pensa-se que há uma pequena população na Beira Baixa, mas não sei se a espécie ainda anda por lá. Actualmente é uma espécie complicada de ver no país, vamos ver se na Primavera aparece algum.”

“Também gostava de ver uma galinhola, que é outra espécie que só vi uma vez e igualmente há mais de 25 anos e muito longe daqui, neste caso foi na Suécia. Sei que as galinholas são habituais em Portugal na época fria, e conheço várias pessoas que já as observaram, mas elas não são nada fáceis de encontrar. Este Inverno tentei, mas não tive sorte. Espero que na próxima temporada alguma se cruze no meu caminho.”

A verdade é que “percorrendo as várias regiões do país em diferentes épocas do ano é possível conseguir ver todas ou quase todas as 300 espécies regulares” de Portugal. “Quanto às raridades, a história é outra, porque o seu aparecimento é sempre mais incerto e para as ver há que estar atento aos avistamentos recentes, que geralmente são partilhados através de plataformas de registos, fóruns ou redes sociais.”

Vamos então começar?

Caderno de campo Wilder – Primavera: encomende o seu caderno e registe as suas observações do que se passa na natureza nesta altura do ano, incluindo as aves selvagens.


Agora é a sua vez.

Gonçalo Elias deixa alguns conselhos para quem quer observar aves, mas não sabe por onde começar:

  • Quando saímos à procura de aves selvagens enfrentamos duas dificuldades: a primeira é encontrá-las, isto é, saber onde andam e como conseguir vê-las; a segunda é aprender a identificá-las correctamente.
  • A melhor forma é ir na companhia de alguém que já tenha mais experiência e que nos vá passando alguns conhecimentos sobre como encontrar e identificar as aves selvagens.
  • Caso isso não seja possível, a melhor alternativa é visitar locais na zona onde reside e tentar descobrir que aves andam por lá. Numa primeira fase, sugiro que comece por explorar o seu bairro e as zonas verdes mais próximas de casa, como sejam parques ou jardins públicos, com árvores de médio e grande porte. Nestes sítios há geralmente uma boa diversidade de espécies e as aves tendem a ser mais tolerantes do que no ‘campo’. Também vale a pena visitar locais com água, pois esses sítios atraem aves aquáticas, que na sua maioria são grandes e fáceis de ver e de identificar.

Se vir uma espécie de ave que não sabe identificar, envie para [email protected] a fotografia, a data e a localidade da observação. As identificações serão publicadas no Que Espécie É Esta?. Até ao final de Fevereiro de 2023 existiam já 200 pedidos de identificação de aves publicados.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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