Um grupo de cientistas descobriu o primeiro exemplo de um mamífero que simula ser uma espécie mais perigosa para se proteger: o morcego-rato-grande, também presente em Portugal.
O morcego-rato-grande (Myotis myotis) é o maior morcego cavernícola que habita em Portugal. Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, “é frequente em Portugal Continental, embora seja mais raro no Algarve”, e “caça essencialmente em meio agrícola” – sobretudo escaravelhos, grilos e aranhas, que detecta através do ruído que estes fazem quando se mexem no solo.
Na Europa, o morcego-rato-grande pode encontrar-se desde a Península Ibérica até às regiões ocidentais da Polónia, Ucrânia e Turquia.
Agora, um grupo de cientistas em Itália anunciou, ligada a esta espécie de morcego, a descoberta do primeiro caso de mimetismo batesiano num mamífero. Os resultados deste estudo foram publicados na revista Current Biology.
O mimetismo batesiano acontece quando uma espécie imita um outro animal mais perigoso, conseguindo assim evitar eventuais predadores.
Danilo Russo, da Universidade degli Studi di Napoli Federico II, em Portici, na Itália, apercebeu-se deste som enganador quando fazia trabalho de campo a apanhar morcegos em redes, para serem estudados. “Quando pegávamos nos morcegos para os retirarmos das redes ou para os analisar, eles invariavelmente zumbiam como vespas”, explicou este investigador, citado numa nota de imprensa da Cell Press, editora da Current Biology.
Apesar de ficar intrigado, só passados alguns anos é que Danilo Russo e o resto da equipa se decidiram a avançar com o estudo destes estranhos sons.
Primeiro, compararam os “zumbidos” dos morcegos com espécies de insectos sociais com ferrão: abelhas-do-mel (Apis mellifera) e vespa-crabro (Vespa crabro). Concluíram que os sons do morcego-rato-grande se podem confundir com os da maior vespa nativa da Europa, em especial quando se restringem àquilo que mochos e corujas conseguem ouvir.
De seguida, a equipa emitiu sons de diferentes espécies junto de corujas-das-torres (Tyto alba) e corujas-do-mato (Strix aluco), para ver como reagiam. Embora as corujas com mais experiência de viver na natureza respondessem mais fortemente, os animais testados “reagiram consistentemente aos zumbidos de insectos e dos morcegos afastando-se da coluna de som”, explica a nota de imprensa. “Em contraste, o som de presas potenciais – sons normais de morcegos – fazia com que as corujas se aproximassem da coluna.”
“É de alguma forma surpreendente que os mochos representem uma pressão evolutiva sobre os morcegos, como resposta às más experiências que tiveram com insectos que picam”, afirmou Russo. “Este é só mais um exemplo da beleza dos processos evolutivos!”
De acordo com o investigador, muitas outras espécies de vertebrados também zumbem quando se sentem em perigo e existem centenas de espécies de morcegos, pelo que é possível que algumas outras adoptem esta mesma estratégia.