Banner

WWF: Açores são “oásis” para as grandes baleias migratórias

17.02.2022
Baleia-azul. Foto: NOAA Photo Library

Um novo relatório da WWF , redigido em colaboração com uma equipa internacional de cientistas, apela a uma acção urgente para salvaguardar as baleias ao longo das suas rotas migratórias.

Intitulado “Proteger os corredores azuis”, o relatório foi lançado esta quinta-feira para assinalar o Dia Mundial das Baleias (comemorado a 19 de Fevereiro) com base nos registos de satélite de 845 baleias migratórias em todo o mundo.

As baleias dependem de importantes habitats no oceano, áreas onde se alimentam, copulam, dão à luz, cuidam das crias, socializam e migram. Os chamados “corredores azuis” são super-estradas da migração que permitem a esta megafauna maurítima mover-se entre estas áreas de habitat e são essenciais para a sua sobrevivência.

O novo relatório, que analisa como as baleias enfrentam várias ameaças, descreve a situação destes animais marinhos por todo o mundo. O arquipélago dos Açores é considerado como “um oásis no meio do Atlântico Norte” para uma série de cetáceos: ali foram observadas já “28 espécies diferentes, incluindo as duas maiores baleias migratórias do mundo – a baleia-azul e a baleia-comum -, o que representa uma das zonas geográficas com maior diversidade de mamíferos marinhos a nível mundial”, explica em comunicado a ANP/WWF – Associação Natureza Portugal, organização não governamental (ONG) que no país representa esta organização internacional. 

“O paradigma moderno da conservação marinha (e não só) é de proteger o património natural para benefício das pessoas e do planeta, numa lógica de ‘em-comum'”, considera Nuno Barros, especialista em oceanos da mesma ONG. “Portugal tem aqui uma responsabilidade acrescida pois no que ao mar diz respeito: muito deste “bem-comum” cai dentro da sua área de jurisdição – mais de 90% de Portugal é mar, e deste, cerca de 60% é mar dos Açores”. 

“Quando as correntes submarinas encontram ilhas, as águas frias mas ricas em nutrientes dos fundos são forçadas a subir. Quando estas encontram a luz do sol, dá-se a manifestação de vida – que como em quase tudo no mar, começa nas algas microscópicas que produzem grande parte do ar que respiramos e acaba nos grandes predadores, neste caso as baleias e os golfinhos”, explica o mesmo responsável.

Nos Açores, segundo este especialista, as nove ilhas que rompem a superfície e os montes submarinos adjacentes funcionam como uma espécie de “estações de serviço” para o fluxo de megafauna marinha que atravessa o oceano.

Actualmente, segundo a ANP/WWF, no arquipélago está em curso a definição de Áreas Marinhas Protegidas e da respectiva gestão, tal como a criação de novas medidas para melhorar a gestão das pescas.

Artes de pesca são as mais mortais

No entanto, por todo o mundo – incluindo Portugal – “os impactos cumulativos das actividades humanas estão a criar um percurso de obstáculos perigosos e por vezes fatais”, alerta por sua vez Chris Johnson, líder global para a conservação de baleias e golfinhos na WWF. “O mais mortal de longe é o enredamento nas artes de pesca – matando cerca de 300.000 baleias e golfinhos por ano. Pior ainda, isto está a acontecer desde o Ártico até à Antártida.”

Mas há outras ameaças ao futuro destes animais apontadas pelo relatório, incluindo alterações climáticas, colisões com embarcações e a poluição (química, plásticos e ruído subaquático). “As baleias enfrentam várias destas ameaças ao mesmo tempo na sua área de distribuição, o que afecta a recuperação de algumas populações e contribui para o declínio de outras”, explica o documento.

Como resultado, seis de 13 grandes espécies de baleias estão actualmente ameaçadas de extinção de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza, classificadas como Em Perigo ou Vulneráveis mesmo depois de várias décadas de protecção. “Algumas podem extinguir-se no nosso tempo de vida, a não ser que actuemos já”, apela a WWF.

A baleia-franca-do-Atlântico-Norte é uma das espécies mais ameaçadas. Esta baleia migra entre o Canadá e os Estados Unidos da América e encontra-se neste momento no seu ponto mais baixo em 20 anos em termos populacionais – contando apenas com 336 indivíduos. 

Apelos à cooperação

A solução para proteger os Corredores Azuis por onde viajam estes grandes animais do oceano está obrigatoriamente ligada a uma nova abordagem de conservação – sublinham os ambientalistas – que passa por “uma cooperação reforçada desde os níveis local, regional e internacional”.

“De particular urgência é o envolvimento com as Nações Unidas”, que deverá concluir as negociações sobre um novo Tratado para o Alto Mar (zonas fora da jurisdição nacional) já no próximo mês, em Março.

De acordo com o relatório agora divulgado, os benefícios de ter Corredores Azuis protegidos “estendem-se muito para além das baleias”, uma vez que estas têm um “papel crucial” na manutenção da saúde dos oceanos e do nosso clima: cada baleia captura a mesma quantidade de carbono que milhares de árvores. 

Este relatório é uma análise colaborativa de 30 anos de dados científicos compilados por mais de 50 grupos de investigação, com cientistas marinhos líderes da Universidade do Estado do Oregon, Universidade da Califórnia Santa Cruz, Universidade de Southampton, Universidade dos Açores, entre outros. 


Saiba mais.

Recorde o avistamento recente de grandes baleias às portas de Lisboa.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

Don't Miss