Camila Rodrigues, 47 anos, estuda ciências políticas e reside em Odivelas. Começou a interessar-se pelas aves há cerca de um ano, na sequência do confinamento. “Hoje identifico centenas de espécies, seja visualmente seja pelo canto, e a minha vida tornou-se infinitamente mais interessante!”, contou à Wilder.
WILDER: O que faz enquanto voluntária?
Camila Rodrigues: Estou a colaborar num estudo sobre os periquitos-rabijuncos (Psittacula krameri), uma espécie exótica originária da África e da Ásia, que se instalou no nosso país devido a fugas de cativeiro. Neste estudo pretende-se identificar os dormitórios da espécie e eu estou a colaborar neste levantamento, nos concelhos de Odivelas e Loures.
W: Há quanto tempo é voluntária pela natureza e o que a levou a começar a participar?
Camila Rodrigues: Comecei apenas há cerca de um mês, por convite do coordenador do estudo, Hany Alonso, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Acredito na cidadania ativa e tento colocá-la em prática sempre que possível, pelo que tenho muito gosto em contribuir para este estudo.
W: Quais são os maiores desafios dos censos de aves em que tem participado?
Camila Rodrigues: Ainda só tenho um mês de experiência mas já sinto algumas dificuldades, pois o território em causa é vasto e tem muitos “cantos e recantos” onde estas aves podem passar facilmente despercebidas. Durante o dia são fáceis de observar pois são extremamente barulhentas e conspícuas, mas à noite não é tão fácil.
W: Quando começou o seu interesse pelas aves?
Camila Rodrigues: Começou precisamente há um ano, na sequência do confinamento. Farta de estar fechada em casa e impossibilitada de frequentar locais com muitas pessoas, senti o apelo pela natureza e dediquei-me a passear no campo. Comprei uma modesta máquina fotográfica para registar a fauna e as aves são os modelos mais acessíveis. À medida que fui conhecendo mais espécies o meu interesse foi crescendo, pois são animais fascinantes, muito belos e bastante mais complexos do que poderia parecer à primeira vista.
W: Porque considera as aves tão especiais?
Camila Rodrigues: À vista desarmada muitas aves, principalmente as mais pequenas, parecem idênticas, mas quando se observam os pormenores numa fotografia é fácil ficar deslumbrado com toda a riqueza e variedade de padrões e cores e com a profundidade e inteligência dos olhares. Passar algum tempo a analisar os comportamentos também é um exercício fascinante, pois as interações entre os indivíduos, sejam da mesma espécie sejam de espécies diferentes, são ricas, variadas e interessantes.
W: Como aprendeu a identificar estas espécies?
Camila Rodrigues: Com o apoio da plataforma Biodiversity4all. É lá que registo todas as observações. E tanto a própria plataforma como os outros utilizadores colaboram na identificação.
W: O que tem aprendido e o que tem ganhado com esta experiência de voluntariado?
Camila Rodrigues: Tenho aprendido que a natureza que podemos encontrar à nossa porta é muito mais rica do que se poderia pensar. Não é necessário fazer um safari em África para encontrar espécies impressionantes, elas estão mesmo aqui, ao nosso alcance. Há pouco mais de um ano apenas identificava os pombos, as gaivotas e os pardais e questionava-me que aves de rapina seriam aquelas que avistava por vezes em zonas urbanas. Hoje identifico centenas de espécies, seja visualmente seja pelo canto, e a minha vida tornou-se infinitamente mais interessante!
W: Costuma participar nos censos sozinha, acompanhada ou em grupo?
Camila Rodrigues: Sempre sozinha. É o meu momento de descontração em contacto com a natureza e gosto de seguir o meu ritmo, causando a menor perturbação possível nas aves. São animais sensíveis e quanto menos gente estiver a olhar para elas, melhor.
Saiba mais.
Descubra mais aqui sobre a acção de ciência cidadã dirigida aos periquitos-rabijuncos, também chamados de periquitos-de-colar, em que Camila Rodrigues participa. Conheça também outras acções de voluntariado, incluindo contagens de aves, realizadas pela SPEA.
Conte as Aves que Contam Consigo
A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.