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Jovem abutre-preto está de regresso ao Douro Internacional, onde nasceu

17.08.2021

Este abutre-preto (Aegypius monachus), espécie Criticamente Em Perigo e com apenas três núcleos reprodutores em Portugal, foi uma das duas únicas crias a nascer em 2020 no Douro Internacional, revela a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural.

Foi a 29 de Julho passado que este jovem abutre, nascido e marcado com dispositivos GPS no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) em 2020, regressou pela primeira vez ao território onde nasceu.

A equipa da Palombar observou-o num campo de alimentação para aves necrófagas (CAAN) que gere no concelho de Miranda do Douro (Bragança). O juvenil de abutre-preto foi registado através de câmara de fotoarmadilhagem, segundo um comunicado enviado ontem à Wilder. 

Foto: Palombar

O juvenil de abutre-preto, batizado de Lechuga, nasceu em 2020, assim como outro indivíduo da mesma espécie, e são crias dos dois únicos casais reprodutores de abutres-pretos até agora identificados no PNDI.

“O Lechuga abandonou a sua zona de nascimento, no PNDI, em Fevereiro de 2021 e, desde então, tinha estado a explorar novos territórios entre Espanha e Portugal, nomeadamente a província de Salamanca, a Serra de Gredos e a Extremadura espanhola, bem como o Alentejo”, segundo a Palombar.

Nos últimos meses, tinha-se alimentado com frequência numa lixeira localizada próxima à cidade de Salamanca, em Espanha, um comportamento comum entre os abutres. “Nestes locais, a espécie encontra alimento disponível e abundante, mas de pouca qualidade, visto que pode estar muito provavelmente contaminado, havendo um maior risco de intoxicação.” 

Imagem: Palombar

Depois de um périplo dispersivo, Lechuga voltou, pela primeira vez, no dia 29 de julho deste ano, ao território onde nasceu no PNDI, “tendo sido atraído pela movimentação e atividade de outros abutres num dos CAAN localizado no PNDI gerido pela Palombar”. 

Juntamente com Lechuga, foram também registados mais cinco abutres-pretos, todos estes provavelmente sub-adultos. O registo foi confirmado também através de dados de GPS emitidos pelo dispositivo colocado no abutre. 

“O registo deste indivíduo num CAAN vem comprovar a importância destas estruturas para a disponibilização de alimento com qualidade, livre de substâncias tóxicas e de forma regular para espécies de aves necrófagas ameaçadas, a qual é fundamental principalmente durante a época de reprodução e período de dispersão dos juvenis, contribuindo também para o estabelecimento e fixação destes no território e para o aumento da sua população nidificante.”

Foto: Palombar

Em maio de 2020, a Palombar também tinha registado pelo menos oito abutres-pretos a alimentarem-se num CAAN gerido pela organização no concelho de Mogadouro.

As duas únicas crias de abutre-preto nascidas no PNDI em 2020 foram marcadas com dispositivo GPS cedidos pela Vulture Conservation Foundation, nos dias 26 de Junho de 2020 e 13 de julho do mesmo ano, numa ação realizada no âmbito do projeto LIFE Rupis e coordenada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF/DRCNF do Norte/PNDI), com intervenção da ATNatureza- Associação Transumância e Natureza, parceiros do LIFE Rupis, assim como a Palombar. Estes foram os primeiros abutres-pretos a serem marcados com GPS no PNDI.

O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave em Portugal, onde é considerado Criticamente em Perigo de extinção, desde 2005. Em território português há hoje três núcleos reprodutores, incluindo o Douro Internacional e também o Alentejo e o Tejo Internacional. É nesta última região que está hoje a maior colónia.

Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

A espécie extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70. No entanto, manteve-se presente na faixa fronteiriça das regiões centro e sul, com indivíduos provenientes de Espanha. Só em 2010 o abutre-preto voltou a nidificar em Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional. Em 2012, registou-se o primeiro casal nidificante no PNDI e, em 2019, o segundo.

 


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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