Uma equipa internacional liderada por investigadores portugueses eleva ao estatuto de espécie a lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), anteriormente descrita apenas como uma subespécie da lagartixa-do-noroeste (Podarcis guadarramae). Portugal fica agora com cinco espécies de lagartixas Podarcis, conhecidas por sardaniscas.
“As duas espécies (P. lusitanicus e P. guadarramae) não se distinguem morfologicamente. São aquilo a que chamamos espécies crípticas”, explica, em comunicado, Guilherme Caeiro-Dias, o primeiro autor do estudo, antigo aluno de doutoramento no CIBIO-InBIO, agora a trabalhar na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos.
“Já se sabia que as duas formas eram algo diferenciadas a nível genético, mas não sabíamos até que ponto concretamente. O que o nosso estudo veio mostrar é que são suficientemente distintas para serem consideradas espécies diferentes”.
Este estudo, liderado pelo CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado da Universidade do Porto), foi publicado a 2 de Agosto na revista Molecular Phylogenetics and Evolution.
A investigação tentou reconstruir a árvore evolutiva destas duas formas e de uma espécie próxima de ambas, a lagartixa-de-Bocage (P. bocagei). Esta última é uma espécie há muito considerada diferente, pois é fácil distingui-la morfologicamente.
Os investigadores mostraram que a separação entre as três espécies ocorreu praticamente em simultâneo e que todas se mantiveram mais ou menos isoladas desde essa altura, o que implica que todas mereçam o mesmo estatuto.
Mas a indicação mais sólida de que estas formas são espécies distintas é o facto de estarem isoladas reprodutivamente. À medida que diferentes populações de uma espécie divergem, a capacidade de se reproduzirem entre si e produzirem híbridos viáveis vai diminuindo até ao ponto em que as populações divergentes passam a ser consideradas espécies distintas e eventualmente a reprodução entre elas cessa por completo.
“Com este estudo mostramos que não existem marcas de grande mistura genética, o que é mais uma evidência no sentido de serem consideradas espécies diferentes”, explica Catarina Pinho, outra autora do estudo.
Todas as espécies mencionadas são endémicas da Península Ibérica, o que significa que não se encontram em mais lugar nenhum do mundo.
A lagartixa Podarcis lusitanicus ocorre numa vasta área do noroeste peninsular, tal como Podarcis bocagei.
A distribuição de Podarcis guadarramae abrange sobretudo as montanhas do Sistema Central espanhol e áreas circundantes, mas o estudo revela ainda que a distribuição desta espécie chega a Portugal. No nosso país a sua presença era desconhecida até agora.
Desta forma, a distribuição actualmente conhecida de Podarcis guadarramae em Portugal está restrita a uma pequena área fronteiriça do concelho de Sabugal.
Para além das três espécies focadas pelo estudo, em Portugal existem ainda a lagartixa-de-Carbonell, Podarcis carbonelli e a lagartixa-verde, Podarcis virescens, também endémicas da Península Ibérica.
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