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Cientistas fazem o retrato de quais são os principais lixos no oceano

11.06.2021
Foto: Pexels/Pixabay

Um novo estudo internacional procurou fazer o diagnóstico completo da origem e natureza do lixo que vai parar às águas oceânicas em todo o mundo. A equipa coordenada pela universidade espanhola de Cádiz foi surpreendida por alguns resultados.

A investigação foi publicada esta quinta-feira na revista científica Nature Sustainability e conclui que uma grande fatia do lixo nos oceanos – em média cerca de 80% – é feito de plástico. Seguem-se metais, vidro, tecidos, papel e madeira processada.

O estudo contou com a colaboração de instituições e organizações não governamentais (ONGs) de 10 países, incluindo Espanha, Estados Unidos, França e Austrália. Os investigadores analisaram e compararam inventários do lixo encontrado em praias, rios, águas costeiras e em mar aberto, tanto na superfície como no fundo, em diferentes locais do mundo.

Concluíram que é nas águas de superfície – como lagos e reservatórios – que o plástico é mais dominante, representando 95% dos lixos encontrados. Essa presença é também importante em zonas costeiras (83%).

Por outro lado, no fundo e nas margens dos rios, boa parte do lixo vem de actividades industriais e domésticas, enquanto que nas praias o consumo de tabaco é a maior fonte de desperdícios – pacotes e embalagens de plástico dos cigarros e isqueiros. Os dados analisados foram recolhidos antes da actual pandemia, mas já na altura os materiais ligados à indústria médica e a produtos de higiene foram muito encontrados no fundo do mar junto à costa, o que se deverá ao facto de serem deitados nas sanitas, indicaram os cientistas.

No entanto, o que mais surpreendeu a equipa foi que entre as 112 categorias de lixo analisadas, um pequeno conjunto de apenas 10 representam três quartos de todo o lixo detectado a nível mundial.

“O desperdício ligado ao consumo de comida rápida e de bebidas encomendadas domina largamente o lixo mundial. Sacos de uso único, garrafas, embalagens de comida e invólucros (como os que envolvem chocolates, por exemplo) são os itens de lixo mais encontrados por todo o lado, representando quase metade dos objectos de fabrico humano”, sublinharam os investigadores, num comunicado divulgado pela Universidade de Cádiz.

Porquê tanto plástico?

Além do recurso contínuo a este material, o estudo aponta para três factores: “Produção irresponsável de bens de plástico descartáveis, comportamento descuidado de alguns utilizadores e falhas nos sistemas de recuperação desses lixos.”

Quanto às soluções possíveis, os investigadores avisaram que há lacunas nos planos de acção, tanto na União Europeia como no Reino Unido, que se baseiam na restrição “de itens de plástico de uso único que são supérfluos ou facilmente substituídos”. “Aqui demonstramos que as restrições ao uso de objectos de plástico como palhinhas, cotonetes e pauzinhos para mexer bebidas, embora prudentes, não lidam ainda com o problema principal”, disse Andrés Cózar, coordenador do estudo e professor da Universidade de Cádiz, citado em comunicado.

Então o que fazer? A aprovação de leis que proíbam o uso de produtos de plástico evitáveis, ligados à compra de bebidas e de comida já feita, é a escolha mais eficaz para reduzir o lixo nos oceanos, acreditam os autores deste novo artigo científico.

Quanto ao uso de objectos considerados indispensáveis nestes consumos, aconselham o reforço da chamada “responsabilidade estendida do produtor”, em conjunto com a criação de taxas de depósito. Estas seriam devolvidas aos consumidores quando estes entregassem os itens em causa, para serem reciclados.

Comparações difíceis

Em comunicado, a equipa alertou ainda que foi difícil comparar a informação disponível no âmbito do estudo. “A nossa ideia inicial era simples, elaborar um ranking dos produtos que mais contribuem para o lixo marinho como referência para as políticas preventivas”, explicou Carmen Morales, investigadora da Universidade de Cádiz. “Mas logo percebemos que não era uma tarefa assim tão simples; tivemos a sorte de contar com o apoio de investigadores e ONGs de todo o mundo, mas a informação existente baseia-se em métodos de amostragem e critérios de classificação muito diferentes.”

A dificuldade para comparar as informações levou à criação de um protocolo de harmonização sistemática para integrar cada uma das grandes bases de dados disponíveis a nível mundial. Em causa esteve a análise de mais de 12 milhões de registos de lixo.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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