O Natal aproxima-se e com ele chegam as tradições de todos os anos. O Azevinho (Ilex aquifolium) é uma das espécies que marca bem esta época cheia de magia, luz, cor e alegria.
O meu pai plantou um exemplar, muito pequenino, no jardim, quando eu era criança. Durante anos estranhei que nunca frutificasse, não sabia o motivo, mas mais tarde entendi, que além de rara, era uma espécie invulgar. Foi necessário plantar outro exemplar próximo daquele para que as suas flores fossem polinizadas e dessem origem aos tão esperados frutos.
O azevinho
O azevinho é a única espécie da família das Aquifoliaceae que surge espontaneamente na Europa. É um arbusto de médio porte, de crescimento muito lento, que pode atingir até 20 metros de altura. De tronco liso e esverdeado, apresenta uma forma piramidal e é muito ramificado. Com a idade, o tronco torna-se acinzentado e rugoso.
É uma espécie dióica, o que quer dizer que tem flores unissexuadas, masculinas e femininas, que ocorrem em indivíduos distintos. As flores são pequenas, solitárias ou em ramalhetes, de cor branca ou ligeiramente rosada. A floração ocorre entre março e junho, frutificando entre outubro e dezembro.
O fruto, que se mantém na árvore durante um longo período de tempo, é globoso, liso e ligeiramente carnudo. Embora muitas vezes mencionado como baga, o fruto do azevinho é uma drupa, ou seja, fruto com caroço. Apresenta cor vermelha escarlate, alaranjada ou amarela e brilhante, tem geralmente menos de 1 cm de diâmetro, contém cerca de 4 a 5 sementes e surge apenas nos exemplares femininos.
As folhas do azevinho são persistentes, de cor-verde-escuras e brilhantes, muito rígidas e têm margens onduladas e espinhosas. Nos ramos mais velhos, as folhas tendem a ficar mais lisas e sem espinhos.
Como acontece com outras espécies vegetais, a designação científica desta espécie está associada às características das suas folhas. O nome do género Ilex, deriva do nome latino da azinheira (Quercus ilex), pelo tipo de folha dentada que ambas as espécies apresentam. Aquifolium também deriva do latim, de accus- (agulha) e -folium (folha), que significa, “folha afiada”, devido à sua folhagem espinhosa. Existe a crença de que esta designação aquifolium se traduz na ideia de “água nas folhas”, devido ao aspeto brilhante das suas folhas que parecerem estar sempre cobertas de água.
Com uma distribuição nativa muito alargada, o azevinho surge espontaneamente nas regiões da Europa atlântica, desde o Mediterrâneo até ao Cáucaso, norte de África e Ásia ocidental. Em Portugal, é comum nas florestas do norte e centro, em bosques e matas de carvalhos, faias e pinheiros e nas margens dos cursos de água.
É uma espécie de sombra, mas também se adapta bem a zonas ensolaradas. É muito resistente ao frio e às geadas, mas sensível às secas estivais. Prefere solos leves, húmidos, ligeiramente ácidos e ricos em matéria orgânica.
Espécie protegida
Devido à colheita intensa a que foi sujeito em Portugal, o azevinho encontra-se protegido por lei desde 1989, tendo sido colocado na lista das plantas em vias de extinção. De acordo com o Decreto-lei 423/89 de 4 de Dezembro “É proibido, em todo o território do continente, o arranque, o corte total ou parcial, o transporte e a venda do azevinho espontâneo Ilex aquifolium L., também conhecido por pica-folha, visqueiro ou zebro.”
Muito importante em termos ecológicos, esta planta serve de abrigo a inúmeros animais e na época do ano mais desfavorável para a vida selvagem, trata-se de uma valiosa fonte de alimento para algumas aves, roedores e herbívoros maiores. No entanto, as suas folhas e frutos são tóxicos para muitos outros. Apesar de apresentar alguma sensibilidade quando sujeito a perturbações que possam ocorrer junto das suas raízes, esta planta tem uma elevada capacidade de regeneração após a passagem de incêndios.
O arbusto sagrado de Natal
Fortemente associado ao Natal são comuns, nessa época festiva, as coroas nas janelas e portas das casas, os arranjos florais e centros de mesa com folhas e frutos de azevinho. Esta tradição, já muito antiga, remonta às civilizações pagãs que consideravam esta planta sagrada e protetora.
Na antiga Roma, por altura das Festas Saturninas, os Romanos decoravam as suas casas com ramos e coroas de azevinho, em honra a Saturno, que a considerava uma planta sagrada, símbolo de paz, saúde, proteção e felicidade. Depois de secos, esses ramos e coroas, eram queimados para purificação.
Existe também uma lenda cristã. Segundo a lenda, Maria, ao ver-se perseguida pelos soldados Romanos, que queriam matar o seu filho Jesus, aproximou-se de um azevinho e pediu-lhe proteção. Milagrosamente, as folhas de azevinho cresceram e esconderam a família Sagrada, protegendo-os.
O azevinho pode viver até aos 300 anos e o que o meu pai plantou, agora com mais de 30 anos, continua a dar um toque muito especial ao nosso Natal. Das suas sementes já conseguimos obter outros exemplares, que plantei no jardim de minha casa, uma vez mais pequeninos, para que os possa ver crescer.