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Foto: Tchami/Wiki Commons

Fóssil de peixe obriga cientistas a repensarem a evolução dos tubarões

09.09.2020

Até agora acreditava-se que os esqueletos de cartilagem tinham sido o primeiro degrau na evolução dos tubarões. A descoberta de um novo fóssil está a lançar dúvidas sobre essa teoria.

Uma equipa internacional descobriu um um velho fóssil de peixe na Mongólia com um crânio ósseo, com 410 milhões de anos, que indica que afinal a história da evolução dos tubarões – e de outros vertebrados incluindo os humanos – poderá ser diferente da que era contada até agora.

Os tubarões pertencem a um grupo de peixes, que inclui também as raias, por exemplo, cuja estrutura interna é feita de cartilagem, um material bastante mais leve do que os ossos. Já a grande maioria dos peixes têm estruturas internas feitas de osso: as chamadas “espinhas” são na verdade pequenos ossos pontiagudos.

Até agora acreditava-se que na árvore da vida os tubarões tinham divergido de um antecessor comum a outros vertebrados – incluindo aos humanos – quando ainda só existiam esqueletos feitos de cartilagens. Os tubarões teriam assim mantido essa estrutura interna, enquanto outros peixes foram evoluindo até desenvolverem esqueletos de osso.

No entanto, a descoberta agora anunciada indica que esta narrativa pode ser diferente. O fóssil encontrado por uma equipa do Imperial College London, do Museu de História Natural de Londres e por investigadores na Mongólia é um velho parente tanto dos tubarões como dos animais com esqueletos ósseos. O estudo foi publicado esta semana na revista científica Nature Ecology & Evolution.

Isto poderá indicar que os antepassados dos tubarões primeiro desenvolveram ossos e depois perderam-nos de novo, em vez de se manterem no estado inicial de cartilagens ao longo de mais de 400 milhões de anos.

“Esta foi uma descoberta muito inesperada”, admitiu o autor principal do artigo, Martin Brazeau, do Departamento de Ciências da Vida do Imperial College London, citado numa nota da instituição. “Segundo a sabedoria convencional, esqueletos internos de osso foram uma inovação única na linhagem que se separou dos antecessores dos tubarões há mais de 400 milhões de anos, mas há provas claras da existência de um esqueleto interno de osso num primo tanto dos tubarões como dos animais que nos deram origem, aos humanos.”

O fóssil encontrado na Mongólia é um pedaço de crânio pertencente a uma nova espécie, baptizada de Minjinia turgenensis. Pertence a um grupo de peixes já extintos conhecidos como placodermes, a partir do qual os tubarões e outros vertebrados com coluna vertebral e mandíbulas móveis – incluindo os humanos – evoluíram.

Até hoje, nunca tinham sido encontrados placodermes com esqueletos ósseos, como é o caso do novo Minjinia turgenensis, e os cientistas estão reticentes sobre as conclusões a tirar apenas com base num único fóssil. Ainda assim, os investigadores têm muito material recolhido na Mongólia e esperam conseguir encontrar outras provas semelhantes.

“Se os tubarões tinham esqueletos de osso e os perderam, pode ter sido uma adaptação evolucionária”, comentou também o líder da equipa, Martin Brazeau, acrescentando que “um esqueleto mais leve poderá ter ajudado estes animais a moverem-se melhor na água e a nadarem em diferentes profundidades”.

“Isto pode ser o que ajudou os tubarões a serem uma das primeiras espécies de peixes mundiais, espalhando-se em oceanos de todo o mundo há 400 milhões de anos”, sublinhou.


Saiba mais.

Recorde oito factos sobre os tubarões portugueses que precisa de saber.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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