Cientistas compararam a presença de abelhas e de outros polinizadores em quatro cidades do Reino Unido, ao longo de dois anos. Descobriram quais são os espaços e as plantas mais importantes para ajudar a travar o declínio destes insectos.
Hortas urbanas e jardins domésticos foram identificados como os melhores refúgios para os insectos polinizadores, num artigo científico agora publicado na revista Nature Ecology and Evolution. A equipa apontou também algumas das plantas mais favoritas, incluindo algumas conhecidas como ervas daninhas.
O estudo em causa realizou-se ao longo de 2012 e de 2013, nas cidades de Bristol, Reading, Leeds e Edimburgo, e comparou a presença de plantas e de insectos em nove diferentes usos da terra: hortas urbanas, cemitérios, jardins domésticos, superfícies construídas pelos humanos (como parques de estacionamento), parques públicos, passeios, reservas naturais, bermas de estrada e outros espaços verdes.
Foram recolhidos 4.996 insectos, nestas quatro cidades, durante os dois anos da investigação.
Principal conclusão? “As hortas urbanas são lugares particularmente bons [para os insectos polinizadores] dentro das cidades, apesar da área reduzida que ocupam”, disse ao The Guardian a investigadora que liderou o estudo, Katherine Baldock, da Universidade de Bristol. Esses pequenos espaços oferecem uma boa mistura de flores de frutos e de vegetais, além de plantas nativas.
“Hortas urbanas e jardins domésticos têm a maior abundância de abelhas e de moscas-das-flores (insectos da família Syrphidae), enquanto as superfícies construídas por humanos – como parques de estacionamento – têm as menores”, notam os autores do estudo, no artigo publicado. “A maior abundância de flores e a riqueza observada em jardins e hortas urbanas é provavelmente um dos motores da maior abundância de polinizadores nestes usos da terra”, notam.
Mesmo outros locais, como cemitérios e reservas naturais urbanas, tinham dez vezes menos polinizadores do que os primeiros. No caso da menor importância das reservas naturais urbanas, pode ter a ver com uma maior presença de árvores em detrimento de plantas mais rasteiras, explicou por sua vez Katherine Baldock.
E as plantas mais atraentes?
Cardo-das-vinhas (Cirsium arvense), ranúnculo-rasteiro (Ranunculus repens), branca-ursina (Heracleum sphondylium), diferentes espécies de dentes-de-leão (Taraxacum sp.) e borragem – todas espécies nativas em Portugal – destacam-se pela forma como atraem os polinizadores, concluíram os cientistas. Em contrapartida, as hortênsias e os miosótis mostraram ser as plantas menos procuradas.
Tanto o cardo-das-vinhas como os dentes-de-leão “são ervas daninhas comuns nas cidades que se situam alto na lista de fornecedores de néctar e pólen aos visitantes das flores”, sublinham.
A presença destes insectos em bairros onde o poder económico é maior foi outra das conclusões, ligada à maior diversidade de flores. “Isso é consistente com o chamado ‘efeito luxo’, em que o estatuto sócio-económico está muitas vezes relacionado de forma positiva com a biodiversidade urbana.”
Por outro lado, os investigadores recomendam maior atenção das autoridades municipais aos parques urbanos e a outros espaços públicos das cidades.
“Parques, bermas de estradas e outros espaços verdes públicos perfazem cerca de um terço das cidades, mas têm menos visitas de polinizadores e recursos para os mesmos do que outras formas de uso da terra”, indicam. “Aumentar o número de flores, por exemplo ao cortar menos vezes os relvados, pode ajudar os polinizadores urbanos”.
Outra recomendação? Impulsionar o crescimento de hortas urbanas em vilas e cidades. “Aumentar a área que ocupam, mesmo em pequena quantidade, pode ter um efeito largamente positivo.”
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Recorde o que pode fazer para ajudar os insectos polinizadores e porquê, neste artigo da Wilder.
[divider type=”thin”]Precisamos de pedir-lhe um pequeno favor…
Se gosta daquilo que fazemos, agora já pode ajudar a Wilder. Adquira a ilustração “Menina observadora de aves” e contribua para o jornalismo de natureza. Saiba como aqui.