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Britango. Foto: Bruno Berthemy / VCF

Está a nascer uma Rede de Proprietários Amigos do Britango

23.05.2018

Dar mais contactos e novas ferramentas a quem protege a biodiversidade no Douro Internacional é o principal objectivo desta iniciativa. A nova rede vai ser apresentada este domingo, dia 27, no festival ObservArribas.

 

O primeiro galardoado da nova Rede de Proprietários Amigos do Britango vai ser anunciado também no domingo, no último dia do ObservArribas – Festival Ibérico de Natureza das Arribas do Douro.

A nova estrutura está numa fase de convites, cerca de 20 até agora. “São personalidades que acreditamos que são um exemplo de boas práticas e de respeito pela natureza”, explicou Julieta Costa, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), entidade que coordena o Life Rupis, ao qual está ligada a rede.

Tal como o projecto luso-espanhol de conservação do britango e da águia-perdigueira, também esta rede se está a desenvolver dos dois lados da fronteira: no Parque Natural do Douro Internacional, em Portugal, e no Parque Natural Arribes del Duero, em Espanha.

 

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Britango nas arribas do Douro. Foto: LIFE Rupis

 

Mas a rede vai muito além do britango e de outras aves de rapina. “A aposta em acções e boas práticas que ajudam predadores de topo como estas aves ajuda também a restante comunidade faunística e florística da região”, disse à Wilder a responsável da SPEA.

Quem são os primeiros membros? Basicamente, pessoas que são exemplos ao nível de boas práticas no pastoreio, ou nas actividades agrícolas, até mesmo em zonas de caça, e que se mostram atentas ao problema dos venenos. Resumindo, “quem tem uma atitude positiva perante a natureza e perante o projecto Life Rupis”.

Entre os convidados estão “pastores que fazem pastoreio de percurso, que assim contribuem para o ecossistema de mosaico e ajudam a controlar os matos nas arribas”. Em causa está um ecossistema onde se intercalam terrenos de silvicultura com bosquetes, matos e prados, numa espécie de mosaico, do qual dependem muitos animais e plantas da região.

 

 

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Paisagem na região do Douro. Foto: Gerry Labrijn/Wiki Commons

 

Mas há também criadores de gado em regime extensivo e proprietários de vinhas e olivais com “práticas que respeitam a natureza” e que não praticam essas actividades de forma industrial. Ou proprietários que têm ninhos de aves de rapina ou de outras espécies emblemáticas nos seus terrenos e estão dispostos a defendê-los.

Outro dos convidados é conhecido por fazer “uma gestão respeitadora da caça”. “[Nessa zona de caça] mantêm pontos de água, fazem sementeiras para a perdiz, viram que as populações de coelho e de perdiz estavam a baixar e nesse ano interditaram a caça destas duas espécies.”

Mais tarde, a ideia é abrir esta rede a adesões espontâneas, sempre com atenção ao cumprimento das boas práticas.

 

O que recebem os membros da rede?

“Queremos criar um espaço de intercâmbio e de troca de experiências para estes proprietários, onde consigam contactos novos, e que os ajude a romper o isolamento ”, adianta Julieta Costa.

Outros objectivos da nova estrutura: “promover a qualidade dos produtos locais”, sempre “a par com práticas harmoniosas para com a natureza”, “dar mais voz” a estes proprietários e às suas preocupações e demonstrar porque são um bom exemplo.

No futuro, a ideia é ajudar a introduzir outras boas práticas. Por exemplo? Ensinar a moderar ao máximo o uso de herbicidas e como se aplica um regime de protecção integrada. Este regime é um passo intermédio face ao regime biológico, em que se “aplicam métodos mais amigos do ambiente, como o uso de insectos para o controlo de pragas.”

As pastagens biodiversas, que apostam em sementeiras de vários cereais locais, como o centeio, em paralelo com leguminosas que azotam os solos, são outra das apostas, com a oferta de sementes aos agricultores.

Após a cerimónia agendada para este domingo, está prevista a atribuição de mais dois galardões a membros da rede, até 2019. E depois? Quanto ao futuro, uma vez que o Life Rupis vai terminar no próximo ano, Julieta Costa acredita na “continuidade” e no “dinamismo” da rede, pois “no terreno vão manter-se as associações locais, os parques naturais e as estruturas municipais”.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Marque presença no Pavilhão Multiusos de Miranda do Douro para ficar a conhecer a nova Rede de Proprietários Amigos do Britango, na cerimónia agendada para dia 27 de Maio à tarde, durante o ObservArribas. Veja aqui o programa completo do festival.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde a longa viagem de Douro desde África, um dos cinco britangos que estão a ser seguidos através de emissores GSM no âmbito do Life Rupis.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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