Ao comparar a biodiversidade existente em plantações de eucaliptos em Portugal, Estados Unidos, Chile, Índia e Austrália, um estudo científico concluiu que os eucaliptais “geram autênticos ‘desertos’ à sua volta, provocando uma dramática redução da biodiversidade do território”.
O estudo foi publicado na revista Global Ecology and Biogeography, de acordo com um comunicado da Universidade de Coimbra (UC).
“As substâncias químicas presentes nas folhas dos eucaliptos impedem o crescimento das raízes de outras espécies nativas, motivo pelo qual os eucaliptais contêm muito pouca biodiversidade fora da sua área nativa, na Austrália”, explicou Daniel Montesinos, investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, que participou neste estudo juntamente com cientistas dos Estados Unidos, Chile, Índia e Austrália.
Os autores do estudo chegaram a esta conclusão ao analisarem a biodiversidade vegetal em eucaliptais da espécie Eucalyptus globulus, tanto na Austrália como noutros países onde a espécie foi introduzida para fins industriais – como é o caso de Portugal, onde esta é a espécie de eucalipto mais comum.
Como resultado, os cientistas mostraram, “pela primeira vez e à escala mundial, como a biodiversidade por debaixo dos eucaliptos é muito menor que fora da sua área de influência, e como extractos das folhas de eucaliptos impedem o crescimento das raízes de outras espécies de plantas.”
Daniel Montesinos sublinhou que “a plantação de eucaliptos é altamente prejudicial”, uma vez que causa um “empobrecimento de espécies” que vai ter “impacto em todo o ecossistema, por exemplo ao nível do controlo da erosão dos solos ou da manutenção da biodiversidade”.
Com efeito, é apenas na Austrália que a biodiversidade não é tão fortemente afectada, uma vez que ao longo de séculos outras espécies também nativas do mesmo território tornaram-se tolerantes aos produtos químicos que estão presentes nas folhas dos eucaliptos.
Ironicamente, notou o investigador da UC, “algumas das espécies que de facto conseguem sobreviver debaixo dos eucaliptais são também espécies exóticas, criando um círculo vicioso de reduzida biodiversidade e espécies invasoras”.
Conclusão? “Os resultados do trabalho mostram, já sem qualquer dúvida, o empobrecimento das superfícies plantadas com eucalipto, que mesmo que de longe possam ter uma aparência “verde”, são na realidade ‘desertos’.”
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Assista aqui a uma entrevista dada pelo investigador Daniel Montesinos, sobre este estudo científico.