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Foto: Richard Sherely

Os já ameaçados pinguins africanos estão a cair numa “armadilha ecológica”

09.02.2017

Os pinguins africanos, espécie em rápido declínio sem sinais de abrandamento, estão à procura de alimento nos locais errados por causa das pescas e das alterações climáticas, alerta um artigo publicado hoje na revista Current Biology.

 

Quando os pinguins africanos (Spheniscus demersus) juvenis saem da sua colónia pela primeira vez, viajam centenas de quilómetros no oceano, à procura de determinados sinais de uma área com muito plâncton e peixe. “Mas as rápidas mudanças causadas pelas alterações climáticas e pela pesca significam que aqueles sinais estão agora a levar os pinguins para zonas com pouco alimento, a chamada “armadilha ecológica”, explicou o principal autor do estudo, Richard Sherley, da Universidade de Exeter e da Universidade da Cidade do Cabo.

 

Pinguins africanos juvenis. Foto: SANCCOB

 

A investigação revela, pela primeira vez, o efeito de uma armadilha ecológica marinha, com taxas de sobrevivência baixas entre os pinguins juvenis e impactos negativos nas taxas de reprodução.

Sherley e os seus colegas, incluindo Stephen Votier, e cientistas dos Governos da África do Sul e Namíbia fizeram esta descoberta depois de utilizarem satélites para seguir a dispersão de 54 pinguins juvenis, a partir de oito colónias, cobrindo assim a área onde a espécie se reproduz. O objectivo era descobrir se os pinguins ficariam, ou não, “presos” no chamado Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela, que se estende ao longo da costa de Angola, Namíbia e África do Sul. Historicamente, esta foi uma das áreas oceânicas mais produtivas do planeta, ricas em sardinha e anchova, o que a tornou crucial para pinguins e pescadores.

 

Foto: Richard Sherely

 

Nas últimas décadas, a sobre-pesca na Namíbia reduziu o número de sardinhas e ligeiras alterações na temperatura e salinidade das águas alteraram as áreas de distribuição dos peixes, centenas de quilómetros para Este. Além disso, o peixe e o plâncton já não estão tão associados como estavam no passado. O problema é que ninguém avisou os pinguins.

“Os pinguins continuam a deslocar-se para onde o plâncton é abundante, mas os peixes já não estão lá”, acrescentou Sherley. “Mais especificamente, as sardinhas na Namíbia foram substituídas no ecossistema por peixes com menor valor energético e por alforrecas.”

Assim, os pinguins africanos juvenis que se encontram no degradado ecossistema de Benguela muitas vezes não conseguem sobreviver.

Stephen Votier salientou que “esta armadilha ecológica só foi detectada quando pinguins juvenis de várias colónias foram seguidos. Isto evidencia a importância do estudo dos movimentos dos animais”.

 

Pinguins africanos juvenis. Foto: SANCCOB

 

O pinguim-africano, com cerca de um metro de altura, está ameaçado e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) pede acções de conservação imediatas para evitar um agravamento do declínio.

Sherley e Votier defendem que seria possível proteger os pinguins levando as crias para locais onde não poderiam ficar “presas” neste tipo de armadilhas. Mas há outras opções, como trabalhar para aumentar os stocks de sardinha na região.

O principal autor do estudo contou que os cientistas estão a ajudar o Governo da África do Sul a implementar quotas e práticas de gestão para a sua pesca à sardinha, tendo os pinguins em consideração.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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