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Foto: Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico

Lince Lítio foi recuperado e regressou ao Vale do Guadiana

12.10.2016

Lítio, um lince-ibérico macho com dois anos, regressou ontem ao Vale do Guadiana depois de quatro meses em recuperação em Espanha, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

 

Lítio nasceu em 2014 em Espanha, no centro de reprodução de El Acebuche (Parque Nacional de Doñana), um dos cinco centros que formam a rede ibérica de reprodução de linces em cativeiro. A 15 de Maio de 2015 foi libertado directamente na natureza (sem passar por cercados de aclimatação) na Herdade das Romeiras (concelho de Mértola) juntamente com outro macho, o Luso.

A libertação de ambos aconteceu no âmbito do projecto de reintrodução do lince-ibérico (Lynx pardinus) para devolver a espécie aos habitats que já foram seus. Este esforço começou na Andaluzia em Dezembro de 2009 e em Portugal em Dezembro de 2014 e resulta do esforço conjunto das equipas dos centros de reprodução da espécie em cativeiro – incluindo o único em Portugal, o Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico (CNRLI), em Silves – e das equipas que trabalham para garantir que o lince tenha um habitat para onde regressar.

Cerca de dois meses depois, Lítio parecia ter fixado território a sete quilómetros do local onde tinha sido libertado. No entanto, este jovem macho abandonou a região em Março deste ano e, a 5 de Maio, acabou por ser capturado nos arredores de Doñana pela equipa do centro de reprodução de El Acebuche.

“A avaliação sanitária indicou que se encontrava em deficiente condição física, pesando apenas 9 quilos e gravemente doente”, explica um comunicado do ICNF. Lítio foi transferido para um centro de recuperação de fauna em Huelva onde esteve em recuperação cerca de quatro meses.

Segundo o ICNF, este lince recuperou por completo das infeções que tinha e ganhou cinco quilos de peso.

Ontem foi novamente solto na área de reintrodução em Mértola. Lítio foi libertado “num território vazio, encaixado entre os territórios de dois machos e três fêmeas” para que detecte outros linces e que fixe território e não volte a dispersar.

A expectativa é que Lítio possa ser um dos machos reprodutores na próxima época de cria que brevemente se iniciará.

Hoje viverão no Parque Natural do Vale do Guadiana 15 linces-ibéricos adultos. Nove deles foram reintroduzidos em 2015 e seis já este ano. Outras duas linces acabaram por morrer, Kayakweru e a Myrtilis. Estes 15 linces vivem preferencialmente numa zona que tem entre 15.000 e 20.000 hectares, dentro dos 70.000 da área do Parque Natural do Vale do Guadiana. “É essa a área de maior qualidade para o lince. Há boas densidades de coelho-bravo, há bastante vegetação arbustiva que proporciona abrigos, como estevas, zambujeiros, aroeiras e algumas azinheiras”, descreveu Pedro Rocha, director da área protegida, à Wilder poucos dias depois da notícia do nascimento da primeira cria de lince em liberdade em Portugal em cerca de 40 anos.

Portugal e Espanha juntaram-se para conseguir, pelo menos, quatro populações viáveis: em Portugal, Andaluzia, Extremadura e Castela-La Mancha. Desde que o programa de reintrodução de linces na natureza começou já foram libertados 170 animais. O objectivo é que estes felinos se fixem e se reproduzam, a fim de recuperar a distribuição histórica de uma espécie que se estima viver na Península Ibérica há, pelo menos, 27.000 anos.

De acordo com o mais recente censo sobre o lince-ibérico, estima-se que existam na natureza 404 animais desta espécie, classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Siga a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves. E saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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