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Sapos-de-unha-negra cantam e põem ovos nos charcos dunares

15.11.2016

Os sapos-de-unha-negra (Pelobates cultripes) estão a acordar e a dirigir-se para os charcos dunares para se reproduzir. Os machos cantam debaixo de água para atrair as fêmeas e estas põem milhares de pequenos ovos nas águas, em cordões gelatinosos fixos na vegetação ou nos fundos lodosos.

 

Ana Ferreira, técnica do projecto Charcos com Vida, contou-nos o que este sapo de olhos muito grandes está a fazer nesta época do ano.

 

 

O sapo-de-unha-negra vive em charcos dunares perto do mar. É um animal noturno. Durante o dia está escondido em buracos que escavou com as unhas-negras que tem em cada uma das patas traseiras – daí o seu nome –, como se fossem autênticas pás (a palavra cultripes em latim é composta por duas palavras que significam “faca” ou ”lâmina” e a segunda “pé” ou ”pata”). Quando se sente ameaçado consegue escavar muito depressa, fazendo movimentos laterais para se esconder.

Ao cair da noite, este sapo sai do seu buraco para se alimentar de escaravelhos, minhocas, mosquitos e larvas de insetos.

Durante as semanas mais frias e mais quentes do ano, este sapo passa por um período de inatividade, escondido no substrato entre pedras e troncos, passando totalmente despercebido.

É nas primeiras chuvas de Outono que os sapos desta espécie “acordam” e iniciam o seu período de reprodução, que dura geralmente entre meados do outono até à primavera.

 

 

Uma vez “acordados”, é altura de se dedicarem à sua principal prioridade: encontrar uma fêmea para se reproduzir.

Nesta altura do ano, os machos estão a migrar para os charcos onde começam a emitir sons de baixa intensidade e frequência (debaixo de água!) para atrair as fêmeas. As fêmeas que chegam mais atrasadas também são capazes de emitir tais sons, para dizer “já cheguei!”. Os machos, se necessário, lutam entre si para conseguir acasalar com as fêmeas que chegam ao charco.

Quando um macho consegue abraçar uma fêmea dentro de água ou nas margens do charco, fecunda os seus ovos (entre 1.000 a 7.000) que são dispostos num cordão comprido e gelatinoso, que se fixa nas plantas do charco ou no seu fundo.

Após 15 dias, os ovos eclodem e pequenas larvas sem patas nadam para se alimentarem de restos vegetais e detritos, atingindo os maiores tamanhos conhecidos para larvas de anfíbios em Portugal (podem atingir 120 mm). As patas traseiras, mesmo ainda fase de larva, já apresentam a unha-negra tão característica. Estas larvas precisam de, pelo menos, três a quatro meses para terminarem a sua metamorfose, altura em que são capazes de emergir do charco como mini-adultos.

 

[divider type=”thick”]Três dos melhores locais para ver sapos-de-unha-negra:

Ana Ferreira deixa-lhe aqui três sugestões e aconselha a que procure estes anfíbios nos caminhos junto aos charcos ou nas suas margens:

Norte: Reserva Ornitológica do Mindelo, Vila do Conde.

Centro: Verdizela, Seixal.

Sul: Parque Natural da Ria Formosa, Quinta de Marim, Olhão.

 

Envolva-se na campanha Charcos com Vida e ajude a pôr no mapa os charcos que conhece. Ou então, descubra aqueles que estão perto da sua casa. Também pode ajudar na campanha “Não deixe os charcos sem vida”, a decorrer de 28 de Outubro a 15 de Dezembro. A campanha de Crowdfunding tem como objectivo garantir a construção de mais 20 charcos, a inventariação de mais 174 charcos e o apoio a escolas (num total de 1.060 alunos) e a 390 profissionais.

A campanha Charcos com Vida, lançada em 2010, quer incentivar a inventariação, adopção, construção e manutenção de charcos e pequenas massas de água para a observação da biodiversidade e conservação da vida selvagem. Após uma primeira fase de organização a cargo do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), actualmente a coordenação e desenvolvimento do projecto é da responsabilidade do CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), da Universidade do Porto.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Cientistas e comunicadores de ciência explicam-nos o que a natureza em Portugal está a fazer no Outono e por quê, nesta nova série Wilder.

A migração das libélulas.

Tritões-de-ventre-laranja estão a voltar aos charcos.

A transformação das folhas das árvores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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