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Este mapa feito por turistas diz-lhe onde pode observar priolos

02.09.2015

No Centro Ambiental do Priolo, na ilha açoriana de São Miguel, há um mapa afixado na parede com as últimas observações desta ave na floresta local. Há dois anos que os turistas que visitam o centro deixam os seus registos para ajudar a conservar esta ave, uma das mais ameaçadas da Europa.

 

Os meses de Junho a Setembro são os melhores para observar priolos (Pyrrhula murina), ave com 30 gramas e 16 centímetros de comprimento e com cabeça, asas e cauda pretas. Nesta altura do ano, os priolos estão em período de reprodução e são mais visíveis na floresta junto à estrada. Constroem os seus ninhos no topo das árvores, procuram parceiros e os machos oferecem pequenas “prendas” às fêmeas para as impressionar. Como comida, por exemplo. Estas informações são dadas no Centro Ambiental do Priolo.

A única população de priolo do mundo vive num cantinho montanhoso da ilha de São Miguel, nos concelhos do Nordeste e da Povoação. Em 2003 restavam apenas 400 aves. Hoje são à volta de 1250. O que aumenta as hipóteses de observações.

“É comum a ideia de que é muito difícil ver priolos”, conta Ana Mendonça, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), no Centro Ambiental do Priolo. “É preciso desmistificar esta ideia. Hoje em dia é cada vez mais fácil ver priolos, resultado do esforço de conservação desenvolvido para o aumento da sua população e existem já guias especializados para o efeito”, diz à Wilder. “Quem chega ao Centro recebe informação de base sobre a espécie, especificamente qual a melhor altura do ano, que comportamentos tem e quais os melhores locais para a observar. E claro, é optimo sentir que as pessoas ficam muito contentes por ver uma ave difícil de observar”, acrescenta.

Afixado na parede, e também disponível online, há um mapa que diz onde estão a ser observados mais priolos. “Pedimos ajuda aos visitantes para fazer um mapa dos avistamentos, que serve também para mostrar que todos querem colaborar com a conservação desta ave tão importante.”

70 registos em 2015

O melhor local para observar priolos fica a três quilómetros do centro, numa determinada zona da Serra da Tronqueira. “Os visitantes podem ir a pé ou de carro. Quando regressam põem os seus pontos no mapa” com o número de aves observadas, a localização, a data e a hora, explica Ana Mendonça. “Temos tido um feedback fantástico.”

 

 

Este ano o centro já recebeu 70 registos, num total de mais de 150 priolos, por pessoas de 12 nacionalidades diferentes. “Este é um número muito bom. E ficamos muito felizes quando os turistas regressam a casa e depois nos enviam as fotografias que tiraram aos priolos”.

Esta iniciativa vai-se realizar durante o período de atividade do Centro Ambiental do Priolo até Novembro. Nessa altura será feito um balanço das observações realizadas pelos visitantes.

No ano passado, o local onde foi contado mais priolos foi o Miradouro da Tronqueira e depois outras zonas da Estrada da Tronqueira e no Pico de Bartolomeu. Foram feitas 56 observações, 28 das quais por moradores em São Miguel (incluindo a equipa da Spea) e 25 visitantes de fora da ilha, de onze nacionalidades diferentes, principalmente alemães, portugueses, espanhóis, belgas e ingleses.

A conservação do priolo, que conta com a parceria do Governo Regional dos Açores, começou em 2003, numa altura em que a espécie estava classificada como Criticamente Ameaçada de extinção por causa da falta de alimento. A floresta Laurissilva estava a recuar e as espécies exóticas ganhavam terreno. Em 2010 passou a ser “apenas” uma espécie Em Perigo, graças aos projectos de melhoria do seu habitat.

Actualmente está a decorrer o terceiro projecto de conservação da ave – LIFE Terras do Priolo -, que termina em 2018. Depois, nada está garantido.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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