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Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Andreas Trepte / Wiki Commons

Mau tempo atrasa chegada de andorinhas e atrai aves raras a Espanha

15.02.2018

As andorinhas-das-chaminés já começaram a chegar a Espanha, mas estão mais atrasadas em relação às últimas décadas, segundo os registos da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife). O mau tempo está também a trazer espécies raras para a Península Ibérica.

 

Segundo a SEO/Birdlife, as primeiras andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica) já foram observadas em Huelva, Cádiz, Badajoz e Cáceres. “Mas estão mais atrasadas nesta temporada em relação às últimas décadas (1990-2017)”, nota a organização que se dedica ao estudo e conservação das aves selvagens.

 

 

Além das andorinhas, muitas outras espécies que passaram o Inverno em África estão a regressar à Península Ibérica para fazer os seus ninhos. Tal é o caso da andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum), peneireiro-das-torres ou francelho (Falco naumanni), milhafre-preto (Milvus migrans) e o cuco-rabilongo (Clamato glandarius).

Esta é uma época muito movimentada para o mundo natural. Uma das coisas a acontecer, por causa das condições meteorológicas adversas de Janeiro, é a observação de espécies de aves cuja presença é rara em Espanha, especialmente na zona da Cantábria (no Norte do país) e das ilhas Canárias (ao largo de Marrocos). A organização refere avistamentos de espécies americanas como a mobelha-do-pacífico (Gavia pacifica) – o segundo registo desta espécie para Espanha – e o pato-d’asa-azul (Anas discors). E ainda de espécies africanas, como o caimão-de-allen (Porphyrio alleni) avistado em Málaga e a toutinegra-do-atlas (Sylvia deserticola)​ em Fuerteventura.

Em muitos casos, acrescenta, estes avistamentos “dão nota de alterações nos padrões de migração a longo prazo”.

Nesta época do ano, e apesar das baixas temperaturas dos últimos meses em boa parte da Península Ibérica, algumas espécies como os grous e os gansos selvagens vão abandonar-nos nos próximos dias rumo ao Centro e Norte da Europa.

“Todos os anos é diferente”, diz Blas Molina, técnico de Ciência Cidadã da SEO/BirdLife. “No actual contexto de alterações climáticas, muitas espécies mudaram a sua distribuição e migração, tendo de adaptar-se a novas condições.” Ainda assim, sublinha, “muitas espécies não conseguirão alterar a sua distribuição à velocidade com que avançam as alterações climáticas”.

Perante este cenário é cada vez mais importante registar estas chegadas e partidas a longo prazo, para “avaliar melhor estas mudanças e conhecer o seu impacto na biodiversidade”.

Esta informação gera-se mediante programas de registos de aves e da colaboração dos cidadãos, como a plataforma eBird. “Este sistema de recolha de avistamentos de aves traz muita informação sobre a distribuição, migração e fenologia e pode esclarecer aspectos sobre as mudanças que podem acontecer num contexto de alterações climáticas”, comenta a SEO/Birdlife.

“Graças à recolha massiva de dados sabemos, por exemplo, que os grous este ano seguem um padrão semelhante de migração até às zonas de reprodução de outros anos”, diz Blas Molina. Neste momento já estão a abandonar as propriedades agrícolas da Extremadura. “Também podemos observar os seus bandos, em zonas aparentemente raras como os céus de Madrid, em viagem rumo ao Norte.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça as cinco espécies de andorinhas de Portugal.

 

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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