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Fernanda Botelho abre o mundo das plantas silvestres às pessoas

19.06.2015

Conhecedora das plantas silvestres, especialista nos seus usos medicinais e culinários, Fernanda Botelho passa os dias a divulgar o que sabe sobre o universo botânico. E avisa que este conhecimento tem de passar para as novas gerações.

Fernanda Botelho, 55 anos, namora com as plantas. Quando está a conhecer uma nova espécie, não larga aquele exemplar durante dois, três dias. Mira e remira, cheira, apalpa, cria empatias com o ser que está ali.

Para muitos, o universo botânico já se teria transformado numa rotina. Mas não aqui. Num passeio realizado em Abril e acompanhado pela Wilder nos arredores do Magoito, na zona de Sintra, esta especialista em plantas medicinais e aromáticas encara com entusiasmo cada espécie que vai descobrindo à beira dos caminhos de terra batida.

Ervilhaca
Ervilhaca

A erva-príncipe, a pervinca, a tanchagem (também conhecida por sete nervuras), a planta do linho, a roseira brava, a calêndula e a cavalinha, a agarra-saias ou amor-do-hortelão, a bolsa-de-pastor. Ao longo dos caminhos de terra batida e nos campos em redor, as muitas plantas que florescem vão ganhando nomes científicos e comuns. E utilidades medicinais e culinárias.

Amor-de-hortelão (Galium aparine).
Amor-de-hortelão (Galium aparine)

Ficamos a saber que a erva-príncipe, por exemplo, encontrada num canteiro à beira de uma casa, é um bom digestivo. Além disso, serve para afastar mosquitos e formigas. As malvas, com as suas flores lilases, combatem os problemas de pele e são expectorantes. Já o meliloto é amigo das abelhas, tal como as pervincas, que ajudam a combater as infecções urinárias.

Campo de meliloto (Mellilotus officinalis)
Campo de meliloto (Mellilotus officinalis), próximo da localidade de Magoito

Nascida e criada na Tojeira, ali próximo do Magoito, desde pequena que Fernanda Botelho convive com as plantas. “Com a minha avó e as minhas tias, íamos para o campo apanhar ervas”, recorda.

Foi assim que aprendeu alguns dos usos medicinais que hoje ensina. Mas só mais tarde, quando foi viver para Inglaterra aos 18 anos – onde iniciou e concluiu a formação como educadora no método Montessori, e estudou também pedagogia Waldorf e fotografia – “é que se deu o clique”.

Fernanda Botelho. DR
Fernanda Botelho. Fotografia: DR

“Vivi lá 17 anos e fui estudando plantas medicinais, fiz vários cursos, muitos passeios. De manhã trabalhava num jardim de infância Montessori, durante a tarde numa ervanária”, conta Fernanda Botelho.

Quando voltou para Portugal, com 37 anos, deu aulas de inglês a crianças. “Percebi que os jardins das escolas não estavam cuidados e comecei a fazer propostas para fazermos jardins de plantas medicinais nas escolas e hortas biológicas”, lembra. E começou assim.

O que começou foi um trabalho dedicado ao universo das plantas medicinais e aromáticas, que se divide em acções de formação para professores e outros adultos interessados nestes temas, a participação no Programa Eco-Escolas, a realização de passeios guiados por todo o país e a escrita de livros.

Scilla peruviana, espécie endémica da Península Ibérica apesar do nome.
Scilla peruviana, apontada como espécie nativa da Península Ibérica, apesar do nome

No que respeita aos livros, além de publicar desde 2010 uma agenda anual – a de 2015 é sobre “Hortas e Jardins Medicinais” -, Fernanda Botelho escreveu “As Plantas e a Saúde: Guia Prático de Remédios Caseiros”.

Para as crianças, publicou até hoje três obras ilustradas (por Sara Simões) sobre a história de Sara, uma menina que vive numa quinta de agricultura biológica juntamente com o pai, e que recebe as visitas dos amigos.

“Já andava com a ideia de escrever estes livros há muito tempo, por perceber que os meninos das cidades estão muito distanciados do mundo das plantas. É urgente, é importante dar a conhecer as plantas às crianças, senão isso vai-se perder tudo”, avisa Fernanda, que nota que entre os adultos “também existe esse desconhecimento”.

Campo de tremocilha (Lupinus luteus).
Campo de tremocilha (Lupinus luteus), perto do Magoito

Desta colecção escrita para os mais novos, o primeiro livro foi “Salada de Flores”, dedicado à Primavera. Seguiram-se “Sementes à Solta”, que se passa no Outono, e “Hortas Aromáticas”, sobre o Verão.

Todos estes livros têm diferentes plantas como personagens “para os miúdos  perceberem que as coisas são sazonais e não há tudo sempre disponível”, comenta. “É para que entendam que para terem cerejas no Natal, elas têm que viajar do Chile ou da África do Sul ou de outro sítio qualquer. Isso é muito, muito importante.”

O quarto livro da colecção, precisamente sobre o Inverno, deve sair no final do ano. Antes, ainda tem planos para publicar uma nova obra para adultos, sobre plantas medicinais portuguesas.

Trovisco-macho (Euphorbia characias)
Trovisco-macho (Euphorbia characias)

Além dos livros, Fernanda Botelho vai escrevendo sobre plantas na revista Jardins e no Portal do Jardim, no seu blogue Malva Silvestre e na sua página do Facebook. É nestes sites também que informa os leitores sobre os workshops e passeios que organiza praticamente todas as semanas.

Guiar passeios, aliás, é um dos seus trabalhos que lhe dá “mais prazer”. “Ando no mato e vejo o fascínio das pessoas quando descobrem uma planta com que estavam habituadas a lidar todos os dias e de repente descobrem: ‘Uau! Isto tem tantos usos!’”, ri-se.

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se gostava de saber mais, pode ficar a conhecer melhor algumas espécies de plantas que a Wilder observou num passeio com Fernanda Botelho, aqui.

Também pode conhecer o blogue da autora, Malva Silvestre, e seguir a página de Facebook.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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