Uma águia-imperial ibérica (Aquila adalberti), espécie Criticamente Em Perigo de Extinção, foi encontrada morta esta semana no Alentejo, com fortes suspeitas de veneno, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Na passada segunda-feira, o ICNF foi contactado pela Junta de Andaluzia no sentido de verificar o que estava a suceder com uma águia-imperial-ibérica, nascida em Espanha, e cujo sinal de satélite indicava a sua presença na zona do Azinhal – Mértola, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG).
Os emissores de satélite, colocados nos animais para seguimento da sua dispersão e da evolução da população a nível ibérico, têm um mecanismo que permite detectar a morte por alteração do tipo de sinal enviado. Foi deste modo que as suspeitas levaram os técnicos daquela área protegida a deslocar-se ao local de transmissão do sinal e confirmar a ocorrência.
A ave acabou por ser encontrada morta, “apresentando indícios de morte por envenenamento”.
Este é o sexto exemplar de águia-imperial-ibérica que sucumbe, com fortes indícios de veneno, nos últimos quatro anos no Alentejo, comprometendo o sucesso de reprodução desta ave no sul de Portugal.
O cadáver foi enviado para o Centro de Análisis y Diagnóstico de la Fauna Silvestre de Andaluzia “para confirmar a causa, determinar o tipo de veneno utilizado e como se procedeu à sua ingestão”.
Entretanto, a zona envolvente foi rastreada pela equipa cinotécnica do SEPNA – Serviço de Ambiente da GNR, juntamente com Vigilantes da Natureza do PNVG à procura de outros indícios.
“Encontrar um isco com veneno é um trabalho determinante nestas situações na medida em que o isco permanecerá no campo, acessível a toda a fauna, selvagem e doméstica, e inclusive acarretando riscos para o próprio ser humano. Por essa razão o binómio humano-cão de que hoje se dispõe para vigilância nas áreas naturais, é uma mais-valia.”
O ICNF salienta que “a eliminação de espécies selvagens através da utilização de venenos é um método ilegal e perigoso. Os venenos são utilizados por várias razões, sendo uma das mais graves e importantes, a diminuição da predação sobre espécies pecuárias e cinegéticas”. Contudo, recorda, há “soluções de prevenção e de controlo, passíveis de autorização pela administração sem recorrer a meios ilegais como o veneno”.
Embora o veneno não lhes seja dirigido, só no último ano foram encontrados mortos na zona de Castro Verde e Mértola, 13 milhafres, duas cegonhas e três águias-imperiais-ibéricas, podendo ser apenas uma parte dos exemplares potencialmente afectados.
A ave agora encontrada é a terceira nascida na região da Andaluzia e que acaba por morrer em Portugal.
A águia-imperial-ibérica ocorre exclusivamente na Península Ibérica e constitui uma das aves mais ameaçadas na Europa. Existem cerca de 500 casais em toda a Península Ibérica e, desde 2004, que é alvo de um memorando de entendimento entre Portugal e Espanha para a sua recuperação. Em 2017, nidificaram 15 casais em Portugal, no interior ou na área envolvente das ZPE do Tejo Internacional, Erges e Ponsul, de Veiros, de Castro Verde e do Vale do Guadiana. Nestes ninhos nasceram pelo menos 17 crias e, destas, 15 já voaram com sucesso. No entanto, até à data, o ICNF também registou 31 situações de desaparecimento de pelo menos um dos progenitores de entre os casais reprodutores identificados.