O Atlas das Aves Marinhas descreve em pormenor a situação de 65 aves marinhas e limícolas que ocorrem nas águas e na costa em Portugal.
Joana Andrade, coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), explicou à Wilder como se fez este novo Atlas, lançado agora em papel no dia 16 de Novembro, e o que traz de novidades para os leitores.
Wilder – Como é que nasceu a ideia para este projecto do Atlas das Aves Marinhas?
Joana Andrade – Nasceu da necessidade de mostrar e divulgar os resultados de cerca de oito anos de censos marinhos. Ou seja, de mostrar o que já é possível saber sobre a distribuição das várias espécies de aves marinhas na nossa extensa Zona Económica Exclusiva.
As aves marinhas representam o grupo de aves mais ameaçadas do mundo e grande parte enfrenta um declínio acentuado. É urgente combater esta situação e esta obra representa um passo fundamental para o conhecimento das espécies portuguesas.
W – Qual foi o trabalho necessário para este Atlas ser publicado?
Joana Andrade – Há cerca de dois anos, em Outubro de 2013, a equipa do Departamento de Conservação Marinha da SPEA deu início à concepção do Atlas. Isto só foi possível graças à extensão do projecto FAME (Future of the Atlantic Marine Environment), que permitiu compilar esta informação, e com o valioso apoio dos restantes autores do livro.
Quisemos tornar esta obra o mais completa possível, o que naturalmente levou mais tempo do que prevíamos inicialmente. Usaram-se várias fontes de dados: censos marinhos, censos costeiros, dados de ‘tracking’ (seguimento individual de aves), observações pontuais e dados das colónias. Desde cedo nos apercebemos, aliás, que seria um enorme desafio compatibilizar toda esta informação por espécie, época do ano e região.
As fichas das 65 espécies ocuparam-nos a maior parte do tempo na concepção dos conteúdos, entregues no final a vários revisores externos, que nos permitiram alcançar um elevado nível de informação.
W – Qual é a importância do projecto?
Joana Andrade – Pelo que sabemos, trata-se da primeira obra do género, pelo menos a nível europeu e com uma tão vasta diversidade de dados. Mostra-nos pela primeira vez uma fotografia do nosso oceano, no que toca à presença e abundância das aves marinhas.
A importância a nível científico é evidente, não só pelos resultados compilados e apresentados nas fichas de espécies, como na descrição das metodologias utilizadas. Quanto ao público em geral, tentámos que a experiência de leitura fosse informativa e apelativa: toda a obra inclui fotografias, mapas e uma ilustração de cada espécie.
W – E quanto à conservação das aves marinhas?
Joana Andrade – Achamos que é uma ferramenta essencial, pois permite uma boa caracterização do meio marinho no que respeita à ocorrência das várias espécies, com a identificação das áreas mais importantes e daquelas onde poderá existir maior pressão das actividades humanas. E é também, sobretudo, uma boa caracterização base, que vai servir de referência para comparações sobre a distribuição e abundância destas espécies no futuro.
W – O Atlas está disponível gratuitamente, tanto na edição digital como em papel. Como é que isso foi possível?
Joana Andrade – Foi possível graças ao co-financiamento do projecto FAME, através do Programa Operacional de Cooperação Transnacional Espaço Atlântico 2007-2013, que permitiu à SPEA coordenar a concepção e conteúdos do Atlas e desenvolver uma plataforma interactiva.
A impressão dos 1000 exemplares em papel só foi possível graças ao apoio do Oceanário de Lisboa, da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Swarovski Optik. Estes serão distribuídos prioritariamente pelas entidades e pessoas que colaboraram no Atlas, co-financiadores e patrocinadores, universidades, escolas e bibliotecas.
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez
Joana Andrade, coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da SPEA, indica-lhe cinco espécies de aves que pode observar de forma mais fácil e regular nesta altura do ano, e que no site do Atlas das Aves Marinhas têm ilustrações e informação disponíveis.
Aqui, pode também fazer o ‘download’ da versão em papel.
– Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus): Distribui-se por toda a costa continental portuguesa. É observada ao longo de todo o ano, em especial no Inverno e durante as migrações pré-nupcial (Janeiro e Fevereiro) e outonal (Setembro a Novembro).
– Corvo-marinho (Phalacrocorax carbo): Desde 2007 que alguns casais nidificam na Albufeira de Alqueva. Em Portugal, ocorre principalmente de Setembro a Abril, frequentando sobretudo o Litoral mas também o Interior. Nos Açores e Madeira, os poucos registos conhecidos são do Outono e Inverno.
– Pardela-balear (Puffinus mauretanicus): Nidifica apenas nas ilhas Baleares, Espanha. A migração pós-nupcial, que decorre no Verão, leva grande parte dos adultos reprodutores e dos juvenis até à costa ocidental de Portugal Continental. São conhecidas zonas de concentração desde a foz do Douro até à foz do Tejo.
– Garajau-de-bico-preto (Thalasseus sandvicensis): Distribui-se preferencialmente pelas zonas costeiras do Litoral. Nos arquipélagos da Madeira e dos Açores é observado ocasionalmente em áreas marinhas litorais como portos e marinas.
– Pilrito-das-praias (Calidris alba): Nidifica exclusivamente no Alto Ártico. Encontra-se ao longo da linha de costa, de Norte a Sul do território continental português, embora rareie no sudoeste.