Os carismáticos 27 golfinhos do Estuário do Sado são-nos bem familiares, quer já os tenhamos visto ao vivo ou só em imagens. Em homenagem ao Asa, e com a ajuda da Vertigem Azul, aqui fica um guia para conhecer e compreender melhor estes fantásticos animais.
- Quem é quem
Antes de mais, é preciso dizer que, mesmo que não seja um perito, pode distinguir cada um dos 27 golfinhos do Estuário do Sado. O truque está em olhar para as barbatanas dorsais, mais especificamente para os cortes, tamanho e forma. Todas são diferentes. “No início, as pessoas dizem-nos que não conseguem identificar os golfinhos”, conta Maria João Fonseca, da Vertigem Azul, “mas passado algum tempo ficam muito entusiasmadas ao reparar que já conseguem”. Ainda assim, é mais fácil distinguir as barbatanas dos golfinhos adultos. E entre estes, há alguns mesmo muito fáceis. Como o Raíz (macho), Esporão (presumível fêmea), Tripé (presumível fêmea), Cocas (macho), Irma (presumível macho), Topo Cortado (fêmea) e a Serrote (fêmea).
Actualmente, metade da população do estuário é jovem (ou seja, tem menos de 20 anos); a outra metade terá, em média, 40 anos de idade. Os golfinhos podem viver até aos 50 anos.
- Técnicas de caça
Os comportamentos de caça à superfície são bem reconhecíveis, apesar de os golfinhos terem várias técnicas diferentes, consoante as presas. Quando caçam peixes – como as tainhas, carapaus ou sardinhas -, os golfinhos fazem-no em grupo. “Correm atrás dos peixes, fazem um cerco ao cardume, trazem-no mais à superfície, atordoam os peixes, partem-nos e depois comem-nos”, explica Maria João Fonseca. Já quando caçam polvos, fazem-nos sozinhos. E aqui a técnica é diferente. “Para se protegerem, os polvos tentam colar os seus tentáculos ao corpo dos golfinhos. Estes, para se libertarem, levam o polvo para à superfície e batem-no na água”, acrescenta.
Quando as crias têm entre oito meses a um ano de idade começam a receber lições de caça. Os adultos apanham o peixe e dão às crias que ensaiam umas mordidelas ou passeiam com ele de um lado para o outro. Este é um comportamento que também é fácil de observar.
- Por que saltam os golfinhos?
Quem diz golfinhos, diz saltos para fora de água e mergulhos que fazem as delícias de qualquer pessoa. Segundo Maria João Fonseca, os golfinhos saltam por várias razões. “Os golfinhos saltam na brincadeira, mas também usam o salto para comunicar uns com os outros, nomeadamente, para chamar a atenção de outros golfinhos, ou como técnica de caça.”
Também é comum vermos golfinhos perto de embarcações. “Eles são animais muito curiosos com tudo o que os rodeia, incluindo os seres humanos. É muito vulgar acompanharem embarcações enquanto durar a sua curiosidade.”
- Como “dormem” os golfinhos?
Não é muito comum vermos golfinhos em repouso. Até porque estes são animais muito activos, tanto de dia como de noite. Na verdade, eles nunca “dormem”. “Estes animais têm sempre um hemisfério acordado e o outro a dormir. Até porque têm de vir à superfície respirar de quando a quando e isso é um movimento sempre consciente”, explica. Sabemos que eles estão em repouso quando os vemos muito calmos, quase parados, em grupo. Mas estão sempre alerta.
- Em viagem
Um dos comportamentos mais espectaculares, na opinião de Maria João Fonseca, é o deslocamento dos golfinhos. “Viajam em grupo, com um rumo certo muito bem definido. É nestas deslocações que conseguimos ver se falta algum animal ou se há algum a mais, vindo das populações que vivem no mar, ao longo da costa”, acrescenta. Apesar destes animais não terem horários, há zonas em que são mais observados do que noutras e há zonas que usam mais para caçar e outras para se deslocar. Por exemplo, tendencialmente estão mais no interior do estuário durante a Primavera, quando seguem a desova das suas presas.
- Qual a melhor altura do ano para observar golfinhos?
Qualquer altura do ano é uma boa altura para observar golfinhos, dado que eles são muito activos. Por exemplo, esta espécie acasala durante todo o ano, sendo o Verão (entre Junho e Setembro) a época fértil das fêmeas.
Normalmente, os 27 golfinhos andam sempre perto uns dos outros, ainda que haja pequenas associações, como entre progenitoras e crias.