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Foto: Pexels/Pixabay

Saiba o que fazer se vir um animal selvagem em dificuldades na praia

19.06.2018

O Centro de Reabilitação de Animais Marinhos – Ecomare quer transformá-lo num perito em ajudar aves, golfinhos ou tartarugas que estejam em dificuldades nas praias de Portugal. A primeira iniciativa da campanha Save for Wave arranca já a 7 de Julho.

 

Pim, Pam e Pum são três crias de borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) e têm pouco mais de uma semana de vida. Estas aves limícolas foram resgatadas de uma praia por alguém que as julgou indefesas e perdidas dos progenitores. Apesar da boa intenção, recolher estas crias não foi o mais indicado.

Hoje, Pim, Pam e Pum estão no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM) – Ecomare, na Gafanha da Nazaré (Ílhavo). “Vão ficar connosco até terem as penas todas e depois serão devolvidos à natureza”, explicou hoje à Wilder Marisa Ferreira, coordenadora do Centro.

 

Pim, Pam e Pum, nos primeiros dias no CRAM-Ecomare

 

“Os borrelhos-de-coleira-interrompida fazem ninho nas zonas dunares. É numa covinha na areia que os pais põem os ovos. Assim que nascem, estas crias começam logo a alimentar-se sozinhas”, explicou. E têm estratégias para enganar predadores que podem enganar também os humanos. Uma delas é fingirem-se de mortas. “Muitas vezes, as pessoas descobrem as crias e pegam nelas, pensando que estão indefesas e em perigo. Quando não é bem assim.” Segundo o CRAM-Ecomare, “se encontrar estas aves na praia não as recolha. Os progenitores estão por perto e tomam conta deles”.

O que é certo é que ajudar a vida selvagem nas praias é crucial mas não é fácil. Outro erro comum é tentar devolver imediatamente ao mar um golfinho que deu à costa. “Se o animal deu à costa é porque tem algum problema. São poucos os casos em que o arrojamento é acidental”, salientou Marisa Ferreira.

Para ajudar as pessoas que querem saber o que fazer no caso de encontrarem animais selvagens nas praias, o CRAM – Ecomare organiza nas suas instalações a actividade Save for Wave, a 7 de Julho, das 09h30 às 11h30.

“Muitas pessoas não sabem o que fazer e podem sentir-se frustradas. Por isso, queremos tentar responder a essas dúvidas e dificuldades, em especial as pessoas que estão em contacto com o mar durante todo o ano, como surfistas, desportistas e pescadores”, explicou a responsável.

A iniciativa, com 40 vagas, vai explicar como se deve actuar, quais os primeiros cuidados, que espécies ocorrem ao longo da nossa costa e dar a conhecer o trabalho do CRAM – Ecomare. “Se quem ajudar os animais fizer bem logo ao início, será maior a probabilidade de sucesso no desfecho da situação.”

Esta será uma acção experimental. “Vamos ver como é a adesão das pessoas. Mas a ideia é alargar a actividade a todo o ano e a outras áreas geográficas, de forma a irmos a outros locais do país.”

Todos os anos, os responsáveis pelos centros de recuperação e reabilitação de animais selvagens recebem milhares de alertas. Este ano, o CRAM-Ecomare já recebeu cerca de 100 cetáceos arrojados, disse Marisa Ferreira. Entre eles estão botos, golfinhos-riscados e baleias-anãs. “Há espécies mais propensas a arrojar, especialmente aquelas que vivem mais próximo da costa e da superfície e que são mais abundantes”, acrescentou.

Ainda assim, os animais mais frequentes são as aves marinhas, desde as gaivotas e pardelas aos gansos-patola e airos, por exemplo. “Mas aquilo que sentimos é que ainda há um grande desconhecimento sobre a nossa fauna”, comentou Marisa Ferreira. “Temos casos de pessoas que nos alertam para gaivotas que não são gaivotas, mas sim gansos-patolas, airos ou pardelas-baleares. Temos várias espécies e precisamos de as conhecer.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. 

Se estiver interessado nesta iniciativa, as pré-inscrições estão abertas até 30 de Junho. Pode fazê-lo aquiAs vagas são limitadas e para maiores de 18 anos. Os resultados das inscrições serão divulgados a 2 Julho.

Este é o número de alerta de arrojamento: 91.96.18.705 mas pode encontrar mais informação sobre o que fazer aqui.

E se quiser espreitar Pim, Pam e Pum, veja este vídeo feito pelo CRAM – Ecomare.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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