É nas noites chuvosas e ainda mornas do Outono que os sapos-parteiros ‘cantam’, na esperança de serem escolhidos por uma fêmea. A Wilder falou com Rui Rebelo, investigador e especialista em anfíbios, e conta-lhe tudo sobre estes sapos fascinantes que ocorrem em Portugal.
Os assobios são curtos, monocórdicos, fazem lembrar o som uma flauta de uma nota apenas. Mas na verdade, são os machos dos sapos-parteiros que estão a cantar para fazer publicidade, para que as fêmeas saibam que estão prontos para o acasalamento.
“É necessário que haja chuva e esteja uma noite morna, o que normalmente acontece entre meados de Outubro e meados de Novembro, para que estes sapos saiam dos seus abrigos para acasalarem”, explica Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Na verdade trata-se de duas espécies com um chamamento difícil de distinguir e um comportamento mais ou menos semelhante: o sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii), que se reproduz apenas no Outono, e o sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans), que volta a acasalar – e a ‘chamar’ as fêmeas – na Primavera.
O primeiro – que ocorre apenas na Península Ibérica – encontra-se em Portugal em quase todas as regiões a Sul do Tejo e também no Interior Centro e Norte, com um núcleo importante nas terras mais quentes de Trás-os-Montes. [Ouça o chamamento do sapo-parteiro-ibérico, captado na zona de Córdova, em Espanha.]
Já o sapo-parteiro-comum, presente em vários países europeus, pode ser observado principalmente nas serras do Norte do país (e também na Serra de Sintra).
“Os machos limitam-se a ‘fazer publicidade’ do sítio onde estão. As fêmeas são maiores do que eles e mandam completamente. São elas que escolhem o macho pelo canto de que mais gostarem e mandam os outros machos passear”, adianta Rui Rebelo. Já aconteceu aliás, sublinha, várias fêmeas a lutarem pelo mesmo macho.
Segue-se o ritual do acasalamento, a fazer lembrar um número de ginástica acrobática. Primeiro dá-se o amplexo, ou seja, o macho abraça a fêmea pelas costas. É nessa posição que “ela põe os ovos, que são logo ali fertilizados pelo esperma dele, e nessa mesma altura o macho, que é mais pequeno do que ela, consegue apanhar estes ovos com as patas traseiras”, descreve o biólogo.
“São entre 40 a 60 ovos, muitas dezenas, que têm uma espécie de cola e desta forma ficam agarrados às pernas do macho. Depois o macho vai-se embora com os ovos e anda com eles durante cerca de três semanas.”
Os cientistas já perceberam que uma mesma fêmea pode colocar os seus ovos em mais do que um macho. E vice-versa: eles também podem carregar, durante aquelas três semanas, ovos postos por mais do que uma fêmea.
“Quando os girinos já estão desenvolvidos, o macho vai para a água, normalmente uma ribeira temporária, e solta a postura. Dá-se uma espécie de explosão dos ovos e os girinos saem impulsionados, já a conseguirem nadar e a vencer a corrente.”
E ali irão permanecer durante os meses frios do Inverno, até ao final da Primavera, quando saem para terra já totalmente metamorfoseados.
Apesar de o sapo-parteiro-ibérico ter um estatuto de conservação Pouco Preocupante – tal como o sapo-parteiro-comum – Rui Rebelo nota que é difícil avaliar qual a situação neste momento, pois este anfíbio passa grande parte do ano debaixo da terra. E mostra-se preocupado com o tempo mais seco durante o Outono, em anos mais recentes, pois com a falta de chuva estes sapos optam por não se reproduzir.
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