A leitora Sofia Silva deparou-se com estranhos “animais pretos” numa praia em Sintra e pediu ajuda para perceber do que se trata. Gonçalo Calado responde.
Há cerca de uma semana Sofia Silva passeava com a cadela na Praia da Samarra, em Sintra, após um temporal, quando deparou “com algo que nunca tinha visto”, escreveu a contar à Wilder: “A maré estava muito baixa e em vez de o areal ter as algas do costume, estava repleto de uns animais pretos que à distância pareciam rochas pretas muito polidas.”
“Se amanhã voltar a ver o mesmo, devo tentar devolver ao mar?”, perguntou também esta leitora, que não conseguiu captar uma imagem mas após algumas pesquisas percebeu que se trataria de lesmas-do-mar.
“Trata-se de um arrojamento de lebres-do-mar do género Aplysia“, esclarece Gonçalo Calado, director do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Lusófona. Estes arrojamentos acontecem quando esses invertebrados já estão em fim de ciclo de vida, pelo que “deixá-los onde estão é a atitude correcta.”
“Serão os organismos decompositores que existem naturalmente nessa zona a fazer o trabalho”, acrescenta o especialista.
A espécie Aplysia fasciata é a maior e a mais comum das quatro espécies do género Aplysia que ocorrem em Portugal continental, conhecidas pelos nomes de lesma-do-mar, lebre-do-mar ou vinagreira. Estas quatro espécies podem ser vistas em arrojamentos.
Segundo Gonçalo Calado, as lebres-do-mar “são herbívoras estritas. Alimentam-se de algas e é aí que se costumam encontrar com mais frequência”. Em Portugal, as espécies conhecidas são consideradas inofensivas.
Estas lesmas costumam nascer como larvas que se alimentam de fitoplâncton, ou seja, de organismos que não se conseguem ver a olho nú e que ficam suspensos na coluna de água, com capacidade de fotossíntese. Mais tarde, “a larva assenta no fundo e sofre metamorfose para um animal juvenil que se alimenta de algas e cresce até atingir a maturidade, reproduz-se e morre.”
No geral, estima-se que existam cerca de 250 espécies de lesmas do mar registadas em Portugal Continental. Na Madeira esse número rondará as 112 e nos Açores, 133, explicou em 2018 este investigador, a propósito de avistamentos nas praias do Algarve.
Saiba mais.
Leia mais sobre as lesmas-do-mar, nesta identificação de uma Aplysia fasciata publicada no consultório “Que Espécie é Esta”.
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