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Estas seis pessoas ganharam o prémio Goldman 2015

21.04.2015

Todos se vestiram a rigor para a cerimónia dos prémios que se realizou nesta segunda-feira na Ópera em São Francisco, nos Estados Unidos. Por uns momentos deixaram de lado a sua roupa de luta diária pelos locais onde moram. A Fundação Goldman Environmental distingue anualmente, desde 1990, os cidadãos que trabalharam contra tudo e contra todos para melhorar o Ambiente nas suas comunidades locais.

Este ano foi a vez de Phyllis, Myint, Howard, Jean, Marilyn e Berta.

Conheça as suas histórias.

 

Howard Wood, Escócia

Desde os anos de 1980, o leito marinho do Estuário de Clyde começou a ser explorado intensamente por técnicas de arrasto, causando um declínio nos corais e nas florestas de algas, habitats vitais para a reprodução de peixes e marisco.

Howard passou grande parte da sua juventude a mergulhar naquelas águas, maravilhando-se com a sua vida marinha. Ao longo das centenas de mergulhos que fazia por ano, Howard testemunhou em primeira mão a destruição da vida marinha às mãos de práticas de pesca irresponsáveis. Em 1989, Don MacNeish, seu amigo, veio entusiasmado de uma viagem à Nova Zelândia pela ideia das Áreas Marinhas Protegidas que existem naquele país. Ele e Howard decidiram que iriam estabelecer áreas semelhantes de conservação marinha em redor da ilha de Arran. Com finanças pessoais, os dois fundaram em 1995 a Community of Arran Seabed Trust (COAST), um grupo de cidadãos voluntários para proteger o ambiente marinho local. Em 2008, Howard conseguiu ver criada uma área livre de pesca. Em 2012 submeteu uma proposta para designar o Mar de Arran como Área Marinha Protegida, com a colaboração das comunidades locais, mergulhadores e cientistas. Em Julho de 2014, o Governo escocês anunciou 30 novas Áreas Marinhas Protegidas, incluindo a do Mar de Arran, a primeira e única desenvolvida por uma comunidade local no país.

Actualmente, Howard está a trabalhar com o Governo para definir uma política que reconheça legalmente o direito de uma comunidade em ter uma palavra na gestão dos seus mares e garantir que a área seja protegida de práticas pesqueiras destrutivas.

 

Berta Cáceres, Honduras

A luta contra a barragem Agua Zarca, no rio Gualcarque, Honduras, custou a vida a Tomas Garcia. A 15 de Julho de 2013, este líder do povo Lenca, de 49 anos, foi assassinado por encabeçar um protesto pacífico contra a barragem, aprovada pela empresa hondurenha Desarrollos Energéticos e pela chinesa Sinohydro. A comunidade local nunca foi consultada sobre o projecto hidroeléctrico que ameaçava a sua sobrevivência e o património cultural.

Berta Cáceres, ela própria do povo Lenca, esteve ao seu lado e continuou a luta contra a barragem que iria cortar o abastecimento de água, alimentos e medicamentos a centenas de pessoas. Já em 1993 tinha fundado o Conselho Nacional de Organizações Populares e Indígenas das Honduras (COPINH) para combater o abate ilegal de florestas e para defender os direitos à terra.

Desde 2006, Cáceres, com o apoio da comunidade, montou uma campanha contra a barragem que chegou ao Governo hondurenho e à comunidade internacional. Em Abril de 2013, Cáceres organizou um bloqueio de estrada para impedir o início das obras. Os manifestantes foram atacados com machetes, presos e torturados. Cáceres recebeu ameaças de morte. Mas ao fim de um ano, as empresas desistiram de construir a barragem.

 

Myint Zaw, Birmânia

Uma empresa chinesa propôs construir a barragem de Myitsone na bacia hidrográfica do rio Irrawady. A obra iria desalojar 18.000 pessoas de quase 50 povoações e destruir a imensa biodiversidade da região. O jornalista de Ambiente e activista social Myint Zaw cresceu numa zona rural do delta daquele rio. Ali nadava e escalava as montanhas vizinhas. A sua infância ensinou-lhe a importância da natureza como uma fonte vital de água e alimento, num país onde mais de 70% da população vive em comunidades rurais.

Myint criou em 2008 uma fundação para alertar para os impactos ambientais de obras como a barragem Myitsone. Depressa se tornou na mente criativa por detrás de uma campanha de sensibilização pela importância do rio Irrawaddy, nomeadamente, através de exposições artísticas sobre a região. O movimento atraiu a atenção de membros do Parlamento e media locais. Em 2011, o Presidente Thein Sein mandou parar a construção da barragem e garantiu que as obras não iriam continuar enquanto ele estivesse no poder. O futuro da barragem será agora decidido pela futura presidência do país, com eleições marcadas para o final deste ano.

 

Jean Wiener, Haiti

O Haiti alberga uma incrível vida marinha, com mangais e recifes de coral. Mas catástrofes naturais e instabilidade política dificultam a vida a um país onde 80% da população vive na pobreza.

Jean cresceu no Haiti e, ao nadar naquelas águas, era como nadar dentro de um aquário, com cores vibrantes por todo o lado. Este biólogo marinho presenciou os danos na vida marinha por causa da sobre-exploração pesqueira e destruição dos mangais.
Determinado a restaurar a vida selvagem marinha da sua infância e trazer oportunidades económicas sustentáveis para a região, Jean criou, em 1992, a Fundação para a Protecção da Biodiversidade Marinha. Este biólogo ajudou as comunidades a criar pequenos negócios de viveiros, criação de abelhas e restauro de mangais e reuniu comunidades costeiras para identificarem potenciais Áreas Marinhas Protegidas. Em 2013, o Governo do Haiti anunciou as duas primeiras áreas marinhas protegidas do país.

Hoje, Jean trabalha para envolver as comunidades locais na implementação das duas áreas marinhas.

 

Phyllis Omido, Quénia

Phyllis Omido foi contratada para analisar os impactos ambientais de uma fundição em Owino Uhuru, nos arredores de Mombaça. Quando descobriu que os moradores de uma comunidade na vizinhança da fundição estavam expostos a químicos perigosos, nomeadamente chumbo, aconselhou o encerramento da fábrica. Como não foi ouvida, Phyllis despediu-se e passou a limpar casas para conseguir sobreviver.

Ao mesmo tempo, contactou os membros da comunidade local e, depois de fazer vários testes, descobriu que a água e o solo estavam contaminados com chumbo, causando graves problemas de saúde na população.

Phyllis fundou o Centro para a Justiça, Governância e Acção Ambiental (CJGEA) e dirigiu-se às autoridades quenianas para encerrarem a fábrica. Foi detida durante um protesto, acusada de incitar à violência, e mais tarde foi atacada por dois homens armados no caminho para casa. Até que, depois de anos de pressão da comunidade local e da fundação de Phyllis, a fundição fechou portas em Janeiro de 2014.

 

Marilyn Baptiste, Canadá

A luta de Marilyn faz-se contra as minas na região de Xeni Gwet’in, pela Taseko Mines Limited (TML). A empresa quis dragar um lago e usá-lo para armazenar resíduos, com consequências para a biodiversidade e para as comunidades locais.

Marilyn passou a maior parte da sua infância no Vale Nemiah, onde aprendeu a respeitar a natureza e a retirar o sustento de forma responsável. Anos mais tarde co-fundou a First Nations Women Advocating Responsible Mining.

Em 2011, quando maquinaria pesada começou a ser deslocada para a zona do lago, Marilyn iniciou um bloqueio que evitou o acesso das equipas ao local. Meses depois, os tribunais proibiram a TML de iniciar qualquer trabalho naquela zona, incluindo a construção de uma estrada e o derrube de árvores. A empresa contestou a decisão e, no início de 2014, o Governo federal rejeitou a mina definitivamente.

Actualmente, Marilyn e a comunidade local trabalham para proteger aquele lago e a área envolvente.

[divider type=”thin”]Pode ler aqui o trabalho de todos os vencedores desde o início do prémio, em 1990.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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